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Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) enviou uma “carta
aberta aos deputados da nação” contestando alguns dos critérios do
código do IRS. É que, segundo alega, o Orçamento do Estado para 2004
“mantém o forte cariz contra a estabilidade familiar” e demonstra
interesse na dissolução desses lares e da natalidade. |
Jorge Godinho |
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Tanto o IRS como o
IVA são dissuasores do casamento e da intenção de ter filhos, diz
a APFN |
Segundo
explicou em declarações ao Correio da Manhã o presidente da
organização, Fernando Ribeiro e Castro, um casal com filhos que se
divorcie pode poupar até oito mil euros no imposto sobre o rendimento
de pessoas singulares (IRS).
Numa família com filhos nenhum dos elementos do casal pode abater
qualquer verba referente a comida no IRS. Se houver o divórcio, um dos
ex-cônjuges paga a pensão de alimentos ao que fica com a tutela dos
filhos, podendo abater até oito mil euros por ano no imposto.
Assim, na missiva enviada aos deputados, onde são levantadas inúmeras
questões dissuasoras do matrimónio, a APFN pergunta: “O Estado acena a
4,47 milhões de portugueses casados com um bónus de dedução ao
rendimento de cerca de oito mil euros no caso de se divorciarem.
Conseguem explicar a estes 4,47 milhões de portugueses, assim como aos
seus 3,5 milhões de filhos, porque estão tão interessados na
dissolução das suas famílias?”.
Além disto, o IRS é ainda desincentivador do casamento uma vez que,
nos casos em que o casal é composto por dois estudantes, pois se se
casarem vêem o montante dedutível à colecta reduzir-se para metade, o
que leva os responsáveis da APFN a perguntar se “o casamento implica
que pelo menos um terá de deixar de estudar?” No caso de dois viúvos
ou solteiros residentes num lar que decidam casar-se, também a dedução
das despesas em IRS passa para 50 por cento.
O IVA foi também alvo de críticas, que recorda que o imposto aplicado
a “artigos de primeiríssima necessidade, como fraldas, pasta de dentes
e bolachas foi aumentado de 17 para 19 por cento”. Então, questiona:
“Conseguem explicar porque artigos de primeiríssima necessidade para
crianças têm 19 por cento de IVA?”
APFN APONTA CONSEQUÊNCIAS
EVOLUÇÃO
O número de casamentos desceu 34 por cento, tendo passado de 86 mil em
1984 para 56,4 mil em 2002. O número de divórcios subiu de 12,5 mil
para 27,8 mil em idêntico período de tempo.
NASCIMENTOS
O número anual de nascimentos mantém-se nos 100 mil, mas há um défice
de 50 mil nascimentos por ano. Ou seja: “Nasceram menos 500 mil
crianças do que seria necessário” na última década.
'VELHOS'
Com a fraca taxa de natalidade tem havido um envelhecimento da
população, ameaçando o sistema de Segurança Social. A instabilidade
gerou, em dez anos, 370 mil ‘órfãos de pais vivos’. Entenda-se: de
divorciados. |