Os avós não podem morrer
Maria Clotilde Moreira, Algés
Nem podem estar doentes. Cada vez mais avós estão a
ser chamados para sustentação da família. À porta
das escolas cada vez é maior o número de avós a
levarem e a irem buscar os netos. O mesmo nas
actividades desportivas e culturais. E as conversas
são muito idênticas: não posso aceitar esse convite,
porque estou de serviço aos netos nesse dia.
Os avós não se queixam, antes pelo contrário.
Mostram um sorriso grande, embora muitas vezes as
pernas não tenham a desenvoltura que seria
desejável. É que os horários dos seus filhos, dos
pais dos seus netos, não têm dimensão humana e para
que haja pão ao fim do mês os avós têm de estar de
serviço, quando não são mesmo os seus pouco recursos
monetários que ajudam no pagamento das contas. E os
avós sorriem e vão acrescentando: pode ser que
venham dias melhores.
Estes avós, que começaram uma vida dura, que foram
lutando, estrearam a melhoria de horários, e a
semana inglesa, o aumento do dias de férias, alguns
até tiveram horários especiais para continuarem os
estudos, o 13º mês e depois algum dinheiro mais nas
férias, vêem agora os seus filhos angustiados
trabalhando sem horários, falta de pagamento de
trabalho extra, e muitas certezas da incerteza do
amanhã. Vivem na angústia de não viverem o
suficiente para ajudar os seus filhos e,
principalmente, os seus netos.