Entrevista em Madrid Ribeiro e Castro critica legislação "contra
valores", como casamento homossexual e aborto
O eurodeputado português Ribeiro e Castro defendeu
hoje um novo debate sobre a família e a defesa da
vida para travar a tendência de "legislar contra
valores", em casos como o casamento homossexual ou o
aborto.
Em entrevista à agência Lusa em Madrid, o
eurodeputado do CDS-PP sustentou que o actual
momento é particularmente oportuno para esses
debates, já que a sociedade vive uma crise mundial
que "em boa parte é uma crise de valores" e que
obriga a debates sobre as questões da família e da
vida.
"Tem-se legislado contra valores e isso é mau. O que
era desejável era que as leis promovam valores ou
que, pelo menos, não os destruam. A lei deve servir
valores", sustentou.
"Sou democrata, acredito na democracia, mas o facto
de se ter formado uma maioria à volta de um ponto de
vista que é errado não significa que eu tenha que
aceitar. Em especial em torno aos valores, onde
precisamos de continuar o debate político, social e
cultural para que democraticamente se viva de outra
maneira, desta vez correcta", acrescentou.
Ribeiro e Castro falava à Lusa em Madrid onde
participa no segundo encontro da Acção Mundial de
Parlamentares e Governantes pela Vida e pela Família
que deverá aprovar uma declaração contra o aborto e
a eutanásia, a favor do casamento entre um homem e
uma mulher e de mais apoios à maternidade.
"O debate democrático não terminou. Esta acção
mundial foi formada em 2007 e está consciente de que
o debate continua e por isso quer reforçar laços
entre políticos e sociedade civil em cada país e
depois entre actores políticos de vários países",
disse.
Trata-se de "estimular o diálogo à volta de questões
essenciais" e de pontos que "podem ser muito nocivos
para a sociedade", referiu.
Como exemplos do que classifica como projectos
legislativos que "violam valores", Ribeiro e Castro
apontou a recentemente aprovada lei do aborto em
Portugal ou a proposta de referendo sobre o
casamento homossexual.
Afirmando não se querer pronunciar sobre a situação
em Espanha -- envolvida actualmente num debate sobre
a reforma da lei do aborto -- manifestou porém a sua
contestação ao casamento homossexual.
"Quando aqui em Espanha se tira do código civil as
palavras 'pai' e 'mãe' e 'marido' e 'mulher',
estamos perante a instrumentalização do direito,
para impor concepções de vida contrárias ao que
justificou a própria formação do direito. Mostra o
absurdo da manipulação jurídica", disse.
"O casamento é uma união entre um homem e uma
mulher. Não estou de acordo com a lei espanhola. Sou
fortemente contra o modelo que se seguiu em Espanha
e considero muito negativo que o líder do PS queira
implementar em Portugal o mesmo modelo", afirmou.
O encontro de Madrid, que reúne parlamentares de 35
países, decorre em Espanha numa altura de intenso
debate sobre a proposta de reforma da lei do aborto,
que deverá avançar para um modelo de prazos,
fortemente contestado pela Igreja Católica e pelas
forças sociais e políticas mais conservadoras.
Ribeiro e Castro recordou que isso é uma
casualidade, já que a reunião foi marcada há dois
anos, no 1º encontro de parlamentares, no Chile.
No encontro de Madrid, o eurodeputado português
deverá analisar o actual momento da crise económica
mundial e a necessidade de devolver as questões da
família e da vida "à política do século XXI".
"Nos últimos anos tem crescido a consciência quanto
à gravidade da situação demográfica no ocidente,
especialmente na Europa. Isso é também uma
consequência de políticas erradas que já estão a ter
um peso errado no agravamento das perspectivas
económicas e sociais do futuro", sustentou.
Para Ribeiro e Castro, depois do século XX ter
ficado marcado pelos debates sobre temas da
economia, da iniciativa e da propriedade privada, há
que consolidar e "ajudar a triunfar" uma "visão da
economia social, de um mercado com cada vez mais
sentido de responsabilidade social".
"As questões da família e da vida são cada vez mais
importantes no debate social e político e isso tem
que ser reconhecido", sublinhou.