O Parlamento discute o programa de educação sexual
das escolas. O Ministério da Educação quer mostrar
órgãos sexuais às crianças e explicar-lhes os
detalhes de carícias, coito e métodos
contraceptivos. Acha que a masturbação é natural, se
deve promover o impulso sexual juvenil praticado com
segurança e que todos os géneros e famílias são
equivalentes. Até pode achar que a educação sexual é
só informativa, não formativa. São opiniões
legítimas e respeitáveis. Mas é bom lembrar dois
pormenores.
Primeiro, não são afirmações científicas e
terapêuticas. São posições ideológicas, contingentes
e discutíveis acerca do comportamento. Quem defende
o oposto tem igual legitimidade e merece a mesma
respeitabilidade O Ministério não pode impor ao País
uma sua opinião como verdade comprovada e
definitiva, para mais neste assunto.
Segundo, as posições do Ministério não são
maioritárias na sociedade portuguesa. Apesar do
maciço bombardeamento cultural de televisões,
revistas e discursos, Portugal acha que o pudor é
uma atitude natural e civilizada, que o sexo deve
ser praticado dentro de relação estável e duradoura,
que o deboche e a pornografia são más. Em todo o
mundo as juras de amor continuam a ser eternas.
O espantoso é o Ministério não notar que neste tema
está a ser tão tacanho e faccioso como era nos anos
1940. A orientação é oposta, mas a atitude é a mesma
do livro único salazarista. Há aqui talvez um traço
de carácter nacional. Não esqueçamos que os «Grandes
Portugueses», eleitos por sufrágio televisivo em
2007, foram Salazar e Cunhal.