Este gravíssimo problema só se resolve quando a
autoridade de cada escola for restabelecida
O incidente da escola Carolina Michaelis do Porto
chocou os portugueses. Não é caso para menos. E deve
levar-nos a reflectir com seriedade sobre as razões
que permitem este estado de coisas.
Foi dito que a culpa é dos pais que não educam os
filhos. Em parte é verdade. Mas sempre houve alguns
pais que não educavam os filhos. E isso não
implicava que os professores não tivessem autoridade
para os manter na ordem.
A explicação é muito mais directa: a professora do
Carolina Michaelis, como a generalidade dos
professores das escolas estatais, não dispunha dos
meios de coerção necessários para manter a ordem.
Ao longo de sucessivos governos, o Ministério da
Educação (que dirige homogeneamente todas as escolas
do Estado e em parte regulamenta também as escolas
independentes) vem impondo teorias politicamente
correctas que retiram autoridade à direcção de cada
escola - designadamente a autoridade de adoptarem
medidas punitivas, incluindo a expulsão, contra a
indisciplina dos seus alunos.
Este gravíssimo problema só se resolve quando a
autoridade de cada escola for restabelecida. Na
actual atmosfera cultural permissiva que domina a
burocracia das ‘ciências’ da educação, isso só será
possível quando as escolas forem livres de
escolherem as suas regras de funcionamento - e
concomitantemente forem responsáveis pelos
resultados que alcançarem. A par disso, grupos de
professores, devidamente qualificados, deviam ser
autorizados a criar escolas independentes em que os
alunos receberiam do Estado o montante das propinas
equivalente ao custo médio de cada aluno numa escola
do Estado já existente.
Isto, por sua vez, só será possível quando o
financiamento das escolas, todas as escolas, passar
estritamente a depender do número de alunos que
conseguirem captar.
Num sistema deste tipo, o Carolina Michaelis estaria
à beira de fechar por falta de alunos. Ou mudaria
imediatamente as suas regras de funcionamento -
começando por expulsar sem apelo nem agravo a aluna
que agrediu a professora, bem como uma boa parte da
quadrilha que participou na paródia.
Se nada disto acontecesse, um bom número dos seus
professores - talvez encabeçado pela professora
agredida - estaria agora a criar uma escola
independente. E muitas famílias mudariam os seus
filhos do Carolina Michaelis para a nova escola
exigentemente dirigida pelo grupo de professores
dissidentes.
P.S.: Com 86 anos morreu o general Galvão de Melo.
Ainda na véspera, jogara ténis no clube do Estoril,
onde todos o admirávamos. A memória do seu espírito
combativo e independente, e da sua paixão pela
liberdade, perdura entre nós.