Quais os problemas que enfrenta a Europa ocidental?
Os jornais são claros. Portugal passou os últimos
meses num aceso debate sobre o aborto. Este será
apenas o primeiro passo. Em França, que legalizou a
prática em 1975, 25 anos depois o célebre "caso
Perruche" atribuiu a uma criança deficiente uma
indemnização por "não ter sido abortada". Os pais
viram aceite a queixa contra o médico que não deu a
informação que permitiria eliminar aquela vida. As
ramificações obrigaram o Parlamento a publicar em
2002 a chamada "lei anti-Perruche", proibindo alguém
de ser indemnizado pelo "prejuízo de ter nascido".
Noutros países fala-se em retirar o apoio de
segurança social aos pais que recusem abortar um
feto a quem foi detectada deficiência grave.
Na Grã-Bretanha vive-se uma enorme discussão sobre o
Equality Act 2006, o qual, proibindo às empresas e
organizações discriminar contra homossexuais no
acesso a bens e serviços, obriga todas as agências
de adopção, incluindo da Igreja Católica, a colocar
crianças em casais do mesmo sexo. Isto conflitua com
o direito dessas instituições de seguir os seus
princípios morais.
Em Itália, um médico que fez eutanásia acaba de ser
ilibado. Entretanto, o Governo de Zapatero, cheio de
dificuldades nos problemas de Espanha, tem como
único sucesso a introdução do casamento de
homossexuais e outras questões fracturantes. Um
tribunal holandês legalizou o ano passado um partido
pedófilo. A União Europeia está a terminar a
negociação do plano chamado Roma III, para conciliar
as leis de divórcio dos Estados membros. Clonagem,
reprodução artificial, manipulação genética estão ao
virar da esquina.
Que problemas ocupam a Europa? Será aborto,
homossexualidade, eutanásia, pedofilia, divórcio?
Bem, de facto, não. Os problemas realmente graves
são a falência da segurança social, o envelhecimento
da população, desemprego, perda de competitividade,
integração da onda crescente de imigrantes. Não são
os temas que se discutem, porque se trata do aborto,
eutanásia, pedofilia, divórcio. Mas são esses os
problemas relevantes.
O mais curioso é que se esconde que as questões que
se discutem são as causas das questões relevantes.
A Europa vive uma acentuada decadência populacional.
A taxa média de fertilidade na União Monetária caiu
para menos de 1,5 filhos por mulher, muito abaixo do
nível de reposição das gerações. A taxa de
casamentos é quase metade da de 1970, enquanto a de
divórcios subiu para mais do triplo. Estes valores
referem-se não a europeus mas aos residentes na
Europa. Se fossem retirados os imigrantes, que são
quem mais casa e mais filhos tem, seriam muito
piores.
Quais as consequências desta catástrofe demográfica?
Naturalmente, a falência da segurança social,
envelhecimento da população, dificuldades na
integração dos imigrantes, perda de dinamismo face
às outras regiões do mundo, que, em boa parte, causa
o desemprego e os problemas na produtividade. A
decadência familiar também motiva muito do crime,
droga, depressão, suicídio.
Quais as causas desta calamidade geracional?
Evidentemente, uma falta de atenção, e até franca
hostilidade, face à família. A família é
precisamente o elemento central na atitude dos EUA,
do mundo árabe e, em geral, de todo o mundo.
Todo o mundo menos a Europa, onde quem defender a
"família tradicional" e o casamento é motivo de
ridículo e acusado de tonto e reaccionário. Porque
os temas da moda, os sinais da modernidade são o
aborto, eutanásia, homossexualidade e divórcio.
Os temas da moda europeia parecem-se perigosamente
com os sinais de decadência civilizacional. Foi
assim na queda do Império Romano, onde também os
tradicionais valores familiares pareciam tolices
obsoletas e ma- çadoras, pois o que era excitante e
divertido era o adultério e o deboche, numa
sociedade que se abandonava ao hedonismo. Perante as
famílias bárbaras, a antiga Roma não teve hipóteses.
A globalização actual não é o mundo de há 1500 anos
e os mercados emergentes não são bárbaros. Mas os
grandes desafios da História que decidem o futuro
estão a ser enfrentados, com grandes dificuldades,
pela China, Índia, Islão, EUA, África, América
Latina. Entretanto a Europa perde relevância e entra
em vias de extinção. Porque, achando-se inovadora e
progressiva, gasta o seu tempo a promover aborto,
homossexualidade, eutanásia, pedofilia, divórcio.
Perante isto, a História ri (ou chora?), encolhe os
ombros e passa ao lado.