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Parlamento Europeu - 23 Mar 06
Os desafios demográficos e a solidariedade entre
gerações
A Europa enfrenta actualmente desafios
demográficos sem precedentes: a esperança de vida
aumenta, enquanto que a taxa de natalidade está em
queda acentuada. Face a estes novos desafios que se
colocam à sociedade e às políticas europeias, o
Parlamento adoptou hoje um relatório onde destaca a
necessidade de promover o emprego, de uma melhor
conciliação entre a vida profissional e familiar, de
políticas de imigração equilibradas e de incentivar
as pessoas com mais idade a trabalharem mais tempo.
No
relatório hoje aprovado por 448 votos a favor, 70
contra e 20 abstenções, o Parlamento Europeu declara
que as transformações demográficas não deverão ser
tratadas apenas como um problema, mas encaradas
também como um desafio positivo para que as
sociedades incluam pessoas de todos os grupos
etários e ofereçam oportunidades que anteriormente
não existiam.
Tendo em conta o Livro Verde
da Comissão "Uma nova solidariedade entre gerações
face às mutações demográficas", os deputados exortam
os Estados-Membros a reconhecerem as transformações
demográficas como um "desafio comum" e a procederem,
no Conselho Europeu da Primavera, a um intercâmbio
mais intensivo de pontos de vista sobre as
consequências das transformações demográficas e as
práticas já comprovadas, especialmente em áreas como
o envelhecimento activo, as condições de vida das
famílias e o equilíbrio entre a vida profissional e
a vida familiar.
Segundo o Parlamento, "as
transformações demográficas e o seu impacto na
sociedade revestem uma importância crucial para o
futuro dos Estados-Membros e da União", pelo que
solicita à Comissão Europeia que reconheça as
transformações demográficas como uma "tarefa
transversal" e que as tenha "devidamente em conta
através da sua inclusão em todas as actividades da
União". Uma das sugestões que deixa ao executivo
comunitário é que leve a cabo estudos, análises e
avaliações pelos pares relativamente às
transformações demográficas e ao seu impacto na
sociedade no contexto do programa comunitário
PROGRESS.
Os deputados consideram
positivo que a Comissão, ao apresentar o Livro
Verde, tenha tomado posição à escala europeia
"perante o que constitui um dos maiores desafios no
plano político e social", mas sublinham que inúmeras
questões colocadas pela evolução demográfica da
sociedade são da exclusiva competência dos
Estados-Membros, o que exclui, regra geral, o
estabelecimento de competências comunitárias com
vista a uma regulamentação europeia neste domínio.
Estados-Membros podem
aprender uns com os outros
Todos os Estados-Membros podem
aprender mais uns com os outros através de um
intercâmbio mais intenso de boas práticas, em
especial com os países escandinavos onde uma
participação elevada dos homens e das mulheres no
mercado de trabalho se conjuga com algumas das taxas
de fertilidade mais altas da Europa e onde a
disponibilidade de estruturas de acolhimento de
crianças gratuitas ou a preços acessíveis, as
oportunidades de licenças parentais e as regras das
licenças de parto são factores que contribuem para a
elevada participação das mulheres no mercado de
trabalho.
O Parlamento Europeu
considera, no entanto, que "não há respostas certas
que sirvam para todos", em especial numa União de
vinte e cinco ou mais Estados-Membros, salientando
que a necessidade de uma abordagem variada para
enfrentar os desafios demográficos é reforçada pelas
disparidades significativas existentes entre as
diferentes regiões e sub-regiões dos Estados-Membros
e que essas disparidades exigirão "abordagens
imaginativas, e não uniformes".
Serviços de saúde
O Parlamento manifesta-se
surpreendido pelo facto de o Livro Verde apenas
mencionar brevemente os aspectos sócio-sanitários
das alterações demográficas. Dado o aumento
qualitativo e quantitativo da procura dos serviços
de saúde e dos cuidados a longo prazo, devido ao
envelhecimento da população, alerta que "o
investimento na prevenção de doenças ao longo da
vida é uma decisão importante para fazer face às
alterações demográficas, numa perspectiva humana e
financeira. "Quanto mais tempo as pessoas puderem
desfrutar de uma vida saudável, mais tempo poderão
permanecer activas e trabalhar" (§ 6).
Modernização da
protecção social
Com taxas de natalidade
decrescentes, o crescimento económico pode ser
recuperado através de medidas que visem uma taxa
mais elevada de emprego, de inovação e de aumento da
produtividade, assim como através da modernização da
protecção social (§ 7).
Maior flexibilidade no
trabalho
Os Estados-Membros são
chamados a fazer mais esforços para identificar e
ultrapassar todos os obstáculos à promoção das
famílias (§ 28), incluindo os obstáculos externos ao
local de trabalho, através de medidas como permitir
maior flexibilidade no trabalho, reconhecendo as
necessidades dos trabalhadores, a fim de que estes
possam melhor adaptar os horários laborais à vida
familiar.
Os deputados apelam também às
empresas para que ofereçam horários de trabalho mais
flexíveis, que tenham em conta as diferentes fases
da vida, e ainda para que ofereçam, desenvolvam e
concebam oportunidades de emprego compatíveis com as
necessidades das famílias e dos trabalhadores idosos
(§ 51).
Sustentabilidade
financeira da legislação social
Em muitos Estados-Membros
"existe um risco importante de os compromissos
financeiros públicos se tornarem insustentáveis a
longo prazo, pondo em evidência a necessidade
urgente de reformas". O Parlamento salienta a
importância vital de os decisores da UE ponderarem
na sustentabilidade financeira da legislação social
vigente e futura (§ 35).
Custos com a segurança
social
Os custos crescentes com a
segurança social exigirão um crescimento económico
dinâmico para os financiar. "Isso apenas poderá
acontecer se a inovação for encorajada". Os métodos
fiscais, tais como o aumento dos impostos para
financiar a segurança social, "são menos
sustentáveis a longo prazo, tendo em conta a
diminuição da base tributária e uma taxa de
dependência mais elevada, bem como a necessidade
urgente de se estimular o espírito empresarial na
Europa". Os deputados sugerem uma "abordagem
holística aquando da análise da reforma da segurança
social" (§ 38).
"Sociedade-providência"
Os deputados afirmam ser
necessário que ultrapassemos o conceito de
"Estado-providência", em que a principal
responsabilidade pela segurança social recai sobre o
Estado, rumo a uma "sociedade-providência", em que
todas as partes interessadas reconhecem ter
responsabilidade por cuidarem umas das outras,
responsabilidade essa que se pode reforçar
reciprocamente (§ 39).
Vida profissional /
vida familiar
Para o Parlamento Europeu, a
melhoria do equilíbrio entre o trabalho e a vida
pessoal deveria ser uma prioridade permanente dos
governos, equilíbrio que pode ser ameaçado pelo
aumento do desemprego e pelo aumento do volume de
trabalho individual. Os horários de trabalho
flexíveis para homens e mulheres, "desde que
resultem de uma livre escolha e não sejam impostos
por pressão económica", poderão ajudá-los a
compatibilizar com maior êxito vida profissional e
vida familiar. "Tal deveria exigir que os governos
dessem às pessoas a possibilidade de fazerem as suas
próprias opções, em vez de fazerem tais opções em
nome delas" (§ 40).
Reforma faseada e
flexível
Apesar de reconhecer que os
regimes de pensão são da competência dos
Estados-Membros, o Parlamento considera que "os
direitos a pensão dos sectores público e privado
deverão ser tratados de forma equitativa, em vez de
existir um tratamento preferencial para um dos
sectores", e que têm de ser tomadas medidas para
promover a reforma faseada e flexível, tendo em
conta a esperança de vida acrescida e uma melhor
saúde pública. "Uma vez que as pessoas vivem mais
tempo, poderão igualmente trabalhar até mais tarde",
refere, convidando os governos a estudarem
incentivos financeiros para encorajar as pessoas a
fazê-lo (§ 63).
As reformas dos regimes
nacionais de pensões não se deverão concentrar
apenas na sustentabilidade financeira desses
regimes, mas deverão igualmente ajudar a tornar a
vida dos idosos mais sustentável do ponto de vista
financeiro (§ 66).
Políticas de imigração
A igualdade de tratamento,
através da eliminação de todas das formas de
discriminação contra os migrantes e os seus
descendentes, e um paralelismo estreito com as
políticas de emprego e de assuntos sociais são
condições prévias para o processo de integração. Os
deputados consideram que estas políticas deveriam
ser encorajadas enquanto "tentativas de atenuar os
desafios demográficos", mas reconhecem que "mais
imigração, só por si, não resolverá todos os
problemas ligados às transformações demográficas e
colocará também os seus próprios desafios" (§ 70).
Serviços de protecção
social
"Os serviços de protecção
social deverão ser salvaguardados nos
Estados-Membros como resultado das transformações
demográficas". Os deputados exortam a que estes
serviços sejam protegidos como serviços de interesse
geral e instam a Comissão a incorporar disposições
nesse sentido no Livro Verde sobre os Serviços de
Interesse Geral (§ 80).
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