Público - 10 Mar 06
Comissão propõe concentração de mais de dez maternidades
Alexandra campos O grupo de peritos que estudou a requalificação das urgências
obstétricas sugere a transferência de partos por
razões de segurança
Se a proposta da Comissão de
Saúde Materno e Neonatal para a concentração de
maternidades for tida em conta pelo ministro da
Saúde, num futuro breve, de um total de cerca de 50
locais de parto, as portuguesas passarão a dispor de
perto de 40. Em traços gerais, a proposta deste
grupo de peritos, que será entregue nos próximos
dias ao ministro Correia de Campos, sugere a
concentração de mais de uma dezena de urgências de
obstetrícia, redistribuindo os seus recursos por
outras tantas unidades de saúde, mas deixa ao
critério dos centros hospitalares já criados ou a
criar a decisão sobre a necessária fusão dos
serviços no interior desertificado do país.
Tudo em nome da segurança das mulheres e das
crianças, tendo em conta a escassez de especialistas
e o reduzido número de partos/ano feitos nestes
pequenos hospitais, até porque o objectivo é
requalificar as maternidades que continuam a
funcionar.
No Norte, a ideia será concentrar os cerca de 800
partos anuais do hospital de Santo Tirso em
Famalicão e os mais de mil partos de Amarante e de
Barcelos nas unidades do Vale do Sousa e de Braga,
respectivamente. Apesar de ter menos de 500 partos
por ano, a maternidade de Chaves mantém-se aberta,
por razões geográficas e de ordem viária.
No Centro, Lamego fecharia, com uma parte dos menos
de 600 partos a ser transferida para Vila Real e
outra para Viseu. A Urgência Obstétrica de Oliveira
de Azeméis seria concentrada na Feira e, no caso da
Figueira da Foz, uma parte dos partos passaria para
uma das maternidades de Coimbra e para o hospital de
Leiria.
"Já não era sem tempo"
No Sul, os partos de Torres Vedras distribuir-se-iam
pelas Caldas da Rainha e por Lisboa - Hospital de
Santa Maria e Maternidade de Alfredo da Costa.
Cascais e Vila Franca de Xira são casos à parte. Uma
vez que vão ser substituídos por hospitais a
construir em parceria público-privada, a comissão
não é tão taxativa. Mas sugere que os partos possam
entretanto também ser concentrados em hospitais de
Lisboa, nomeadamente o de São Francisco Xavier, o de
Santa Maria e o de Dona Estefânia.
Ainda no Sul, o encerramento da Urgência Obstétrica
de Elvas já foi admitido pelo presidente da câmara,
sendo os partos transferidos para Portalegre e
Badajoz. Beja e Évora mantêm-se, tal como Portimão e
Faro.
No caso dos hospitais da Guarda, Castelo Branco e
Covilhã, considera-se também indispensável e urgente
a concentração em uma ou duas unidades, mas a
decisão deverá aqui resultar do consenso entre o
conselho de administração do futuro centro
hospitalar com a Administração Regional de Saúde do
Centro. O mesmo deverá acontecer no caso do Centro
Hospitalar do Nordeste Transmontano (CHNT), que tem
duas maternidades.
"Já não era sem tempo", comenta Luís Graça,
presidente do Colégio da Especialidade de
Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos,
sublinhando que na base da proposta do grupo de
peritos estão problemas de segurança. Dos 13 ou 14
casos de morte durante o parto de que há notícia no
ano passado, quase todos aconteceram em pequenos
hospitais, notou.
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