Jornal de Negócios - 09 Mar 06
Cavaco lança cinco desafios para assegurar o progresso de Portugal
Nuno Carregueiro Aníbal Cavaco Silva, que prestou hoje
juramento como Presidente da República, lançou cinco
desafios para Portugal assegurar um futuro de
progresso, que passam pelo crescimento da economia
portuguesa, qualificação dos recursos humanos,
melhorias na justiça, sustentabilidade da Segurança
Social e credibilização do sistema político.
«Serei o presidente de Portugal
inteiro», disse o novo Presidente da República
portuguesa.
No discurso que efectuou após
prestar juramento como Presidente da República,
Cavaco prometeu «leal cooperação» com a Assembleia
da República.
Quis também prestar sincera
homenagem a Jorge Sampaio, pelo «patriotismo e
profundo sentido de estado». «É para mim uma grande
honra entregar-lhe o grande colar da ordem da
liberdade», afirmou.
«Pensem no futuro do país, que é
agora o que interessa», disse Cavaco, lembrando que
«num momento de grandes preocupações, os portugueses
gostariam certamente de saber que os políticos estão
a juntar esforços».
Apelou a entendimentos alargados
entre Governo e oposição e lançou cinco grandes
desafios para abrir caminhos consistentes de
progresso, para os quais os portugueses esperam
respostas.
Para estes desafios, «os
portugueses esperam, com sentido de urgência, uma
resposta da parte dos responsáveis políticos»,
defendeu. Aquilo que os portugueses esperam hoje dos
políticos «é acção, mais acção».
Cinco desafios
O primeiro diz respeito à criação
de condições para crescimento mais forte da economia
portuguesa, combate ao desemprego e recuperação dos
atrasos para a União Europeia. «Sem isso tudo será
mais difícil», afirmou.
Lembrou que Portugal enfrenta
fortíssima concorrência dos mercados externos e é um
país da periferia da Europa. E também que é um país
fortemente dependente da evolução do petróleo, pelo
que apelou a uma «política energética ajustada às
novas realidades»
O segundo desafio diz respeito à
qualificação dos recursos humanos, pois o futuro
assenta na qualificação dos jovens e formação dos
trabalhadores. Outro desígnio deve centrar-se no
«combate ao insucesso e abandono escolar», que deve
ser uma prioridade, «apelando à colaboração dos
professores e dos pais».
O terceiro desafio passa pelo
reforço da credibilidade do funcionamento do sistema
de justiça. Cavaco citou os «sintomas de degradação
da qualidade das instituições» do sector da justiça
e apelou à responsabilidade das forças políticas
para assegurar consensos nesta matéria.
O quarto desafio diz respeito à
sustentabilidade do sistema de segurança social,
devido à ansiedade relacionada com a capacidade do
Estado assegurar no futuro o pagamento das pensões.
«Urge aprofundar estudos técnicos
sobre o financiamento da Segurança Social» e seria
desejável assegurar consenso político alargado nesta
matéria, devido ao crescimento da população e
descida da taxa de natalidade.
O quinto desafio diz respeito à
credibilização do sistema político. «A democracia
não se esgota em eleições e alternância de poder»,
afirmou.
«Os agentes políticos têm de ser
um exemplo de cultura da honestidade, de
transparência, de responsabilidade, de rigor na
utilização dos recursos do Estado, de ética do
serviço público, de respeito pela dignidade das
pessoas, de cumprimento de promessas feitas»,
sublinhou.
Afirmou que um Estado ao serviço
de todos dever ter os melhores funcionários e os
critérios de escolha devem ser o mérito.
Combate à corrupção
«Um regime que se funde neste
conjunto de valores tem de ser firme no combate à
corrupção», afirmou. «Exige-se um combate permanente
e sem tréguas» à corrupção.
«Exige-se firmeza nas leis e
investigação» para combater a corrupção. acrescentou
Disse também que a busca da
coesão social deve ser uma prioridade, citando os
idosos, deficientes, e pessoas vitimas de violência,
especialmente as crianças.
Portugal precisa de todos
os portugueses
«Neste momento que atravessamos
não e fácil precisamos de todos. Portugal precisa de
todos os portugueses», disse.
Para Cavaco, «a situação é
demasiado complexa», pelo que «empenhar-me-ei para
que exista uma cultura cívica de responsabilidade».
«Precisamos de aumentar a
produtividade, mas não se pense que os portugueses
trabalham pouco», disse
À classe empresarial cabe apostar
em produtos e melhorar a qualidade da gestão e
conquistar novos mercados e aproveitar oportunidades
que a globalização oferece.
Para Cavaco, preservar
produtividade com salários baixos não tem futuro.
Apelou ainda à melhoria na qualidade dos serviços do
Estado e garantir a descida da despesa publica.
O Presidente da República
terminou o seu discurso de 28 páginas lembrando a
viagem inaugural de Pedro Álvares Cabral, há
precisamente 506 anos, para deixar um paralelo com o
mandato de cinco anos que hoje inicia.
«Desejo que a minha eleição para
Presidente da República fique associado a bom tempo
para a vida do país, que brisas favoráveis o
conduzam ao rumo certo, que os portugueses reavivem
a esperança e ganhem o ânimo e a crença que permitam
conduzir a nau colectiva para além da distância, da
incerteza e do desconhecido, até porto seguro»,
afirmou.
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