Jornal de Notícias - 14 Mar 04
Fisco discrimina milhões de casados
Portugueses divorciados têm melhor tratamento nas deduções
A impossibilidade de duas pessoas casadas declararem individualmente os
seus impostos aumenta a carga fiscal da maioria das famílias portuguesas,
revela um estudo da consultora Deloitte sobre "Família e Fiscalidade na
Europa", que vai ser apresentado no 2º Congresso Europeu das Famílias
Numerosas que se realiza em Lisboa no próximo dia 27 de Março. Os dados
levam a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas a afirmar que o fisco
"discrimina mais de 4,5 milhões de portugueses casados". A carga fiscal
num casal com três dependentes é quase o dobro de duas pessoas divorciadas
com dependentes, observa o estudo, realizado em 2003 em 12 países
europeus. Maior carga fiscal para os cônjuges é uma constante nos países
estudados, mas só em Portugal, Bélgica e França é obrigatória a entrega de
declarações conjuntas.
Um casal com três dependentes, por exemplo, e com um
rendimento bruto total de 70 mil euros paga de impostos 10.673 euros, se
for casado, enquanto se for divorciado e o pai pagar uma pensão de
alimentos de 8.121 euros, por dependente, pagará 5.632 euros. Quanto a
deduções pessoais fixas, os casados podem deduzir 182,80 euros por cada
sujeito, enquanto os não-casados podem deduzir 219,36 euros. Ou seja, os
primeiros totalizam uma dedução de 365,60 euros, contra os 438,72 euros
dos não casados.
Outro exemplo de tratamento desigual é a dedução à
colecta de contas de poupança-habitação, que pode chegar ao dobro nos não
casados. A política fiscal não reconhece à família qualquer influência na
tributação da casa. Nas despesas de educação, não tem em conta as famílias
com mais filhos.
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