António Marcelino - 11 Mar 04
Educação Sexual, no
reino da confusão
Um jornal da capital vem
interrogando diariamente pessoas sobre se concordam ou não com a educação
sexual nas escolas. São cidadãos comuns, com nome e retrato e, a quase
totalidade, diz que "sim", porque deste modo as crianças se podem defender
dos perigos, haverá menos gravidezes não desejadas, menos abortos e sida,
e terão assim informação sobre doenças perigosas a evitar… Lá aparece um
ou outro a dizer que não concorda, porque os alunos já sabem de mais e os
professores não estão preparados para estas questões.
A tónica está sempre na
informação sobre as relações sexuais e suas consequências.
O curioso, porém, é que
não se pergunta se se concorda com a informação na escola, mas antes com a
educação. Aliás, se se falasse de informação em ordem a evitar doenças ou
gravidez não desejada, esta não seria necessária, uma vez que as escolas,
até por exigência do programa e com o livro de texto a dizer tudo, já
informam quanto baste. Assim o pude verificar há meses em visita a uma
escola e, por mera casualidade, a uma sala do 8º ano, onde essa era a
matéria do dia.
Não sei se o jornal é isso
que pretende, navegar na confusão, mas, educação sexual ou da sexualidade
e também da afectividade, tem outra dimensão além da mera informação.
Educar é ajudar a crescer,
a discernir e a escolher, a respeitar e a comunicar. É abrir à
responsabilidade dos actos que se praticam. É dar capacidade para se fazer
com alegria o que se deve e não apenas o que apetece. É formar pessoas que
se respeitem e respeitem os outros. É ajudar a perceber que nem tudo o que
se pode fazer, convém que se faça. Por tudo isto, a educação tem
exigências concretas para quem educa e para o educando. Tarefa digna, mas
cheia de consequências.
A campanha pela educação
sexual parece andar, para muita gente, unida à convicção de que a
actividade sexual não tem limites e é um direito para quem assim o quiser,
adolescente, jovem ou adulto. Por isso se clama pela distribuição de
preservativos nas escolas, nas pousadas juvenis e até em sítios, como
museus, onde os alunos vão em visitas de estudo com os professores da
escola. Afinal o que querem os pais? Apenas que os filhos não apanhem
doenças e as filhas adolescentes não fiquem grávidas? Ou querem que eles
sejam pessoas equilibradas, alegres, sábias, respeitadoras de si próprios
e dos seus colegas e amigos? Ou querem que os filhos tomem consciência de
que o valor da pessoa não vem do número das suas experiências sexuais, mas
da sua capacidade de responsabilidade e de domínio pessoal?
As pessoas são sexuadas
por natureza, da raiz dos cabelos à ponta dos pés. A sexualidade é uma
força e um dinamismo de vida que não se esgota na relação sexual, mas se
exprime numa relação pessoal alargada e enriquecida de mil maneiras, que
traduzem em doação, respeito e entreajuda. A actividade sexual, a qualquer
nível, é sempre humana e humanizadora, por isso não se pode separar da
afectividade.
Nunca se fará educação
sexual apenas informando ou somando saberes diversos. Toda a educação visa
a realização de um projecto de crescimento e de fidelidade. Também a
educação sexual. Ela é cada vez mais necessária e urgente e requer atenção
e competência.
Os alunos um dia
perceberão que quem os ajudou e educou não foi quem lhes deu pílulas ou
preservativos e os atirou para a aventura do mais fácil, mas quem fez com
eles, pacientemente, o caminho que os ajudou a serem pessoas equilibradas,
capazes de escolher o que as dignifica, alegres e respeitadoras de si
próprias e dos outros.
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