A propósito de ... “MAIS VIDA, MAIS
FAMÍLIA”
J.P.
Magalhães Crespo
Assiste-se actualmente, no “terreno” da
discussão pública e livre expressão de opiniões, a uma disputa entre os
defensores da Morte, entenda-se “interrupção voluntária da gravidez”, com
cerca de 120 mil assinaturas, e os defensores da VIDA, leia-se “mais vida
mais família”, com cerca de 200 mil assinaturas recolhidas.
Mesmo admitindo não existir qualquer
representatividade ou extrapolação possível para o “todo” do universo da
população Portuguesa, o certo é que a
análise dos resultados dos nºs. apresentados os diferencia em mais
de 65 % . Que o mesmo é dizer que a comunicação social deveria, no mínimo,
tratando com imparcialidade, equidistância e
objectividade o assunto em questão,
manter a proporcionalidade
encontrada nas suas notícias escritas ou faladas ( por exemplo, a 5
minutos de tempo de antena a falar da recolha de
assinaturas e a favor da Morte, deveriam
corresponder outros 8 minutos falando da recolha de assinaturas e
defesa da VIDA ).
Por mais voltas que dê á minha imaginação,
não consigo perceber porque razão o mediatismo noticioso se apresenta bem
mais defensor da Morte do que da própria VIDA?!...
Infelizmente o que é notícia é a Morte e não
a VIDA ! Provavelmente porque esta é um dado adquirido e inalienável da
nossa condição humana: “está-se vivo porque há vida” ou, vai dar o mesmo,
“tem-se vida por se estar vivo”.
Imagine-se o absurdo que seria uma qualquer
notícia do género: “Sr(ª). ... vive às ... horas do dia ... do mês
de ... do ano de ... por (naturalmente) estar vivo ou ter vida; em
contraposição a uma outra de coerência noticiosa: “Sr(ª). ... morreu
às ... horas do dia ... do mês de ... do ano de ... pelo motivo de
(normalmente por causa plausível) doença, acidente, idade”. A morte é
notícia, a vida não!
O conhecimento científico, que não o
político, dos nossos dias é consensual quanto ao início da “VIDA” humana:
no acto da concepção/do cruzamento por emparelhamento das
bases dos ADN´s (ácido
desoxirribonucleico) do progenitor
masculino (pessoalmente gosto mais do
substantivo “PAI”) e do progenitor feminino (também aqui gosto mais
da palavra “MÃE”). Pai e Mãe que dão origem a um ser independente, com ADN
próprio e que nos primeiros segundos, minutos, horas dias e meses vive
habitando e dependendo do seio materno.
E
repare-se agora, há quem defenda que nesta fase da vida, em que o
novo ser está mais dependente e indefeso, se pode/deve matar!
Um precedente que me arrepia e faz pensar que
qualquer dia assistiremos a nova recolha de assinaturas agora para que se
eliminem outros seres também indefesos porque deficientes, doentes ou em
fase avançada ou terminal de vida; para
mais tarde se recolherem outras mais assinaturas pedindo a
segregação, igualmente pela morte, de todos
quantos não obedeçam a características
físicas padronizadas (cor de pele, de olhos ou de cabelo, estrutura
física, capacidade intelectual, etc.). Porque não? O princípio é o mesmo:
“ não se deseja, não se gosta ... elimina-se! “; através da morte, por
processo irreversível.
Até os
computadores na sua linguagem informática são mais prudentes e cautelosos
ao perguntarem primeiro: “Tem a certeza que deseja remover a “pasta” e
mover todo o seu conteúdo para a “reciclagem”? “ ... para mais adiante
voltar a perguntar: “Tem mesmo a certeza que deseja eliminar
definitivamente a “pasta” e o seu “conteúdo”? “
Abençoadas Máquinas que “conscientemente” alertam as consciências dos
Homens !
Sejamos
claros e directos: não tenhamos vergonha de defender a VIDA, em toda a sua
existência, em toda a sua plenitude, com a mesma vontade e determinação de
quem a defendeu, em tempo, precisamente para aqueles que hoje reclamam a
defesa da Morte de outras vidas.
Assumam-se as dificuldades e as diferenças, organizem-se as sociedades no
princípio da ajuda e solidariedade humanas, porque “Todos Diferentes,
Todos Iguais”. Não se eliminem nem os “diferentes” pois somos todos
iguais, nem os “iguais” pois também estes são diferentes.
Em
oposição ao mediatismo noticioso defensor da Morte, inversamente
proporcional às assinaturas recolhidas, reclame-se a defesa da VIDA, esta
última directamente proporcional à vontade da larga maioria subscritora do
princípio de “ MAIS VIDA, MAIS FAMÌLIA ”.
Façamos da VIDA uma notícia permanente.
Gafanha da Boavista, 2 de Março de
2004
J.P.
Magalhães Crespo
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