Diário de Notícias - 2 Mar 03

Inflações

A inflação é um mistério para a maioria dos portugueses. Porquê? Porque enquanto o Índice de Preços no Consumidor (IPC) mede aumentos baixos nos preços médios dos bens e serviços, os cidadãos cada vez sentem mais dificuldades em adquirir os produtos de que necessitam. Desde a introdução do euro que se assistiu a um aumento desenfreado dos preços, sem o correspondente reflexo na inflação medida pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Também a Direcção-Geral da Empresa, que substituiu a Direcção-Geral do Comércio e Concorrência, não regista subidas de preços significativas nos bens de primeira necessidade e, numa previsão para o início deste ano, até indicou que os principais focos de preocupação em termos de contribuição para o crescimento dos preços seriam os sectores da restauração e do peixe.

Ainda recentemente, um estudo da Deco indicava Portugal como um dos países mais caros da Europa no que diz respeito a electrodomésticos e outros produtos de grande consumo. E os consumidores interrogam-se sobre quais serão os locais onde os funcionários do INE recolhem os preços e que produtos andarão a adquirir para não registarem a subida do custo de vida. Legumes, frutas e peixe custam cada vez mais. O vestuário e o calçado estão a preços proibitivos. E até os transportes sobem, às vezes mais do que uma vez por ano. O aumento do valor do passe mensal no Metro de Lisboa é um exemplo. Mais 25% não é justificável, mesmo que, em média, os aumentos conjuntos da Carris e do Metro não ultrapassem os 3,9%.

É certo que a inflação percepcionada é normalmente superior à inflação medida, mas também é certo que os preços dos bens e serviços têm aumentado muito acima do IPC nos últimos anos. A introdução do euro teve grande influência, já que facilitou o aumento, quase imperceptível, dos preços. Um fenómeno que deve preocupar as autoridades e que, além da crise, até pode explicar uma parte da diminuição do consumo privado no nosso país.

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