Público - 6 Mar 03
Organizações Religiosas Contestam Directiva de Reagrupamento Familiar
Por ANTÓNIO MARUJO
"Resultado decepcionante" na política comunitária sobre migrações
A Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (Comece) e outras organizações
católicas e de várias confissões religiosas criticam duramente, em comunicado, a
directiva comunitária sobre o direito à reunificação familiar de cidadãos de
terceiros países. A directiva, "de facto, dá múltiplas possibilidades aos
Estados-membros de restringir este direito", afirma Denis Viénot, presidente da
Caritas Europa, organização católica de acção social.
Para este responsável, "infelizmente, o resultado final é muito decepcionante" e
contém a mais "restrita definição de família na União Europeia". O texto do
comunicado onde estas organizações religiosas anunciam a sua posição conjunta
leva um título em forma de pergunta: "Direito às famílias de viverem juntas ou
direito dos Estados-membros em restringir direitos humanos?".
No documento divulgado em conjunto, as organizações subscritoras afirmam
lamentar "profundamente" a decisão dos ministros da Justiça e Assuntos Internos
- área que, na Comissão Europeia, é tutelada pelo português António Vitorino -,
tomada no passado dia 27. O mais grave, diz o texto, é que a decisão foi tomada
apesar de várias organizações não-governamentais se terem pronunciado contra o
que consideram atingir o coração dos padrões mais importantes dos direitos
humanos.
Pior ainda, criticam as organizações religiosas: a UE comprometera-se a dar
passos no sentido de dar direitos iguais a cidadãos de países terceiros o mais
rapidamente possível. E o direito à vida familiar é uma "pedra angular" da
integração dos imigrantes, recorda o texto. A directiva aprovada permite aos
Estados-membros restringir o direito de reagrupamento familiar para criança com
menos de 12 anos, através do requerimento de testes de integração, e até aos 15
anos pode mesmo ser limitada a mesma possibilidade.
No comunicado, as organizações religiosas recordam que o direito ao
reagrupamento familiar para crianças de 12 anos está previsto por convenções
internacionais. "A lei internacional deve ter precedência sobre a legislação
nacional e considerações de controlo de migrações", diz o texto.
A posição colectiva é subscrita por um conjunto de organizações cristãs. Da
Igreja Católica, além da Comece e da Caritas Europa, Serviço Jesuíta aos
Refugiados e Comissão Católica Internacional de Migrações assinam o texto. A
Comissão das Igrejas (cristãs) para a Imigração na Europa e o Conselho Quaker
para os Assuntos Europeus subscrevem também o documento.

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