Diário Económico - 21 Mar 03
Os desafios colocados pelo envelhecimento da Europa
Por Martin Wolf
O envelhecimento da população significa um aumento da
dependência e um eventual decréscimo do potencial crescimento.
Segundo as
Nações Unidas, do total de países da esfera europeia, apenas um apresenta uma
taxa de fecundidade acima da média a pobre e pequena Albânia. Os restantes,
da Rússia à Irlanda, evidenciam taxas de fecundidade que variam entre uma taxa
bastante baixa ou quase inexistente. A Europa está na iminência de se tornar
num lar da terceira idade.
A Europa foi, em tempos, pioneira da modernidade. Hoje, é o protagonista de
uma transformação demográfica - juntamente com o Japão e as pequenas e
prósperas economias da Ásia-Pacífico. O Departamento para População das Nações
Unidas estima que a população europeia decresça 13% entre 2000 e 2050 e que a
média etária aumente dez anos, passando então para os 48 anos.
A baixa fecundidade e o aumento da esperança de vida são os pilares destas
mudanças. Ambos os factores resultam de situações benignas: o controlo da
fertilidade por parte das mulheres e o crescente bem-estar das sociedades.
Estas alterações demográficas (ver caixa) implicam não só um aumento rápido da
dependência, como um eventual decréscimo do potencial crescimento económico.
Segundo a Comissão Europeia, a Europa - encarada como um todo - , poderá muito
bem assistir a uma acentuada quebra da taxa de crescimento, a qual pode descer
dos 2-2 1/4 % ao ano para cerca de 1 1/4%. Neste contexto, faz sentido
concluir que o envelhecimento da população é nefasto para o crescimento da
produtividade e, consequentemente, para o potencial crescimento, que pode
descer abaixo dos 1% ao ano. Em Itália, seria ainda mais baixo. Ainda segundo
a Comissão, a actual quota-parte do PIB mundial pode descer dos 18% para os
10%, enquanto a quota-parte dos EUA pode subir dos 23% para os 26% - uma
mudança de peso à escala mundial.
Como fazer frente a estes desafios?
Os desafios não são, contudo, meramente económicos.
Uma sociedade onde mais de 40% da população se situe acima dos 60 anos e
apenas 13% esteja abaixo dos 14 anos - cenário previsto para Espanha e Itália
, é, no fundo, uma situação sem precedente, além de preocupante. Com taxas
de fecundidade próximas dos 1%, a população nativa fica reduzida a metade a
cada nova geração. (...)
Assim, em primeiro lugar, é necessário lidar com os obstáculos que se colocam
à fecundidade. A actual geração de potenciais mães pode apenas ter alterado o
seu calendário de concepção, embora não haja certezas. As sociedades devem
analisar cuidadosamente todos os entraves que se coloquem à conciliação das
ambições pessoais com a paternidade. Os recursos públicos devem ser empregues
não na assistência aos idosos, mas no apoio às famílias com crianças.
Em segundo, e como parte integrante da reforma do sistema de pensões, devem
combater-se, a todos os níveis, os obstáculos que impeçam uma maior
participação da mão-de-obra, em especial daqueles que tenham mais de 60 anos.
A ONU estima que em 2050, mais de 10% da população de países como a Áustria,
Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Itália, Noruega, Eslovénia,
Espanha, Suécia e Suiça terá mais de 80 anos - ou seja, serão eles a chamada
terceira idade. A maioria dos cidadãos entre os 60 e os 80 anos - que
constituirão 20% a 30% da população em 2050 - deverão sustentar-se a si
próprios.
Em terceiro lugar, devem suprimir-se todos os obstáculos ao aumento da
produtividade. Os governos deverão, igualmente, contribuir para a acumulação
de capital da qual depende o futuro bem-estar das suas sociedades. Por esta
razão, é inaceitável qualquer défice fiscal.
Em quarto, deve gerir-se a imigração. As pressões relativas à imigração vão
acentuar-se devido às baixas taxas de crescimento populacional e à elevada
taxa de natalidade registada nos países vizinhos. Este tipo de imigração deve,
porém, ser planeado por forma a minimizar atritos, capitalizando antes os
benefícios.
Trata-se de uma vasta agenda. Será, sem dúvida, uma árdua tarefa para os
países ricos da Europa Ocidental e, ainda mais árdua, para a Europa Central e
de Leste que têm de fazer face aos mesmos desafios mas com salários
inferiores. Estes devem, antes de mais, aproveitar os próximos dez a vinte
anos para crescer, de forma a que as suas economias possam alcançar os padrões
de vida dos seus vizinhos ricos.
Sul do continente com declínio mais acentuado
No Sul da Europa o declínio da taxa de natalidade é o mais acentuado: 1,45 em
Portugal, 1,27 na Grécia, 1,23 em Itália e 1,15 em Espanha. Em 2050, prevê-se
que a média etária destas populações oscile entre os 49 anos, em Portugal, e
os 52 anos, em Itália. Estima-se que a população decresça entre os 8% em
Espanha e os 22% em Itália.
Os três países mais ricos do centro da Europa, Alemanha, Áustria e Suíça,
registam igualmente baixas taxas de natalidade: Áustria (1,28), Alemanha
(1,35) e Suíça (1,41). Prevê-se, também, que a população suíça diminua 19% em
2050, a austríaca, 9% e a alemã, 4%. A modesta descida prevista para a
Alemanha justifica-se com base no aumento da imigração.
Nos países do Norte e Leste da Europa, regista-se uma taxa de natalidade
relativamente alta que oscila entre uma taxa mais elevada na Irlanda - 1,9
nascimentos - e uma mais baixa, no Reino Unido - 1,6 nascimentos por cada
mulher. Os restantes países encontram-se no meio desta tabela: França (1,89),
Noruega (1,8), Dinamarca (1,77), Finlândia (1,73), Luxemburgo (1,73), Holanda
(1,72), Bélgica (1,66) e, por fim, a Suécia (1,64). A população do Reino Unido
deverá crescer 13% devido, em grande parte, à imigração.
Os países candidatos à União Europeia - incluindo a Bulgária e a Roménia - ,
registam baixas taxas de natalidade que podem variar entre os 1,1 na Letónia e
os 1,32 na Roménia, enquanto o maior candidato, a Polónia, regista 1,26. Estes
países sofrerão, igualmente, grandes quebras populacionais nos próximos
cinquenta anos, podendo oscilar entre uma pequena descida de 8% na Eslováquia
e uma descida acentuada de 52% na Estónia.
O maior abrandamento de crescimento de população, porém, deverá verificar-se
mais a Leste. Estima-se que a população russa decresça em 30%, acompanhada de
perto pela Ucrânia, com uma descida de 36% entre 2000 e 2050.
Exclusivo DE/Financial Times
Tradução Ana Pina