Público - 19 Mar 03
Governo Quer Dinamizar Mercado de Arrendamento
Programa apresentado até final de Abril
Empresas de reabilitação urbana vão actuar na área da recuperação do património
habitacional degradado
Luísa Pinto
O Governo pretende substituir os actuais programas de incentivo à recuperação do
património habitacional degradado por um novo conjunto de propostas legislativas
com vista à reabilitação dos centros urbanos com património edificado devoluto.
Esta mudança estriba-se no incentivo ao mercado de arrendamento que o executivo
de Durão Barroso pretende protagonizar, propondo-se comparticipar, em
percentagens que podem ultrapassar os 60 por cento do investimento, a
intervenção nos edifícios que se destinam ao mercado de arrendamento. A criação
de "empresas de reabilitação urbana" é a solução encontrada pelo Governo para
permitir intervenções a grande escala, como o actual estado de degradação de
alguns centros urbanos parece impôr. Estas informações foram avançadas pelo o
secretário de Estado de Habitação, Jorge Costa, que vê neste programa uma forma
de dar real impulso à recuperação do património degradado e inverter a tendência
de o mercado apostar na construção nova em vez de se virar para a recuperação.
Desta forma, programas como o Recria e o Rehabita vão ser substituídos por
aquilo a que Jorge Costa chama de "programa global de apoios" e que pode ser
dividido em várias partes. Depois das câmaras de Lisboa, Porto e Coimbra terem
apresentado os seus contributos, a secretaria de Estado está a "ultimar detalhes
e a acertar pormenores" para poder apresentar "um projecto global que pode ser
aplicado a todas as cidades do país".
As câmaras municipais são, "naturalmente", o motor destas intervenções e são
também elas que poderão justificar a criação de empresas de reabilitação urbana.
"A ideia é dotar as câmaras municipais de mecanismos excepcionais de
intervenção, para que possam fazer a recuperação pensando num quarteirão ou numa
rua inteira.
O secretário de Estado garante que o programa que está a ser ultimado é "tão
flexível" que pode ser adaptado a todas as situações. Mas defende que nessas
sociedades devem estar instituições financeiras. "O país está da maneira que
todos sabemos. A solução é encontrar entidades financiadoras que se associem às
câmaras e aos proprietários para financiarem essa operação, sendo que essas
entidades também tiram rentabilidade", argumentou.
A comparticipação pode chegar acima dos 60 por cento do investimento necessário,
um cálculo a efectuar com uma tabela de variáveis que compreende elementos
diversos como o valor das obras, o rendimento do prédio, ou o grau de
conservação do edifício. Sem querer revelar mais pormenores deste pacote
legislativo, Jorge Costa, sublinhou que o Governo não está sequer preocupado com
a dotação orçamental a dar a esta programa. Primeiro, porque o IGAPHE, que geria
o Recria, tem verificado que, nos últimos anos, a dotação que tinha para o apoio
à recuperação foi utilizada numa percentagem baixíssima. E depois, como relembra
o secretário de Estado, muitas das sociedades que podem vir a ser criadas podem
nem sequer usufruir da comparticipação - porque ela traz consigo o ónus da
obrigatoriedade de servir o mercado de arrendamento
"Interligação para a eficácia"
Alguns dos actuais problemas que assaltam o sector da construção começaram a ser
resolvidos ontem. A assinatura de um protocolo de colaboração entre o IMOPPI -
Instituto dos Mercados de Obras Públicas e Particulares e do Imobiliário - e o
INESC, o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto vai
permitir criar a plataforma informática que faltava para que a informação esteja
centrada num único sítio e implementar mecanismos de transferência electrónica
de dados, com as autarquias e com a administração central, em matérias de
interesse comum. Acesso directo a informação relativa ao licenciamento de obras
particulares e a obras lançadas por entidades públicas, recolha de informação
relevante referente às empresas, em matéria de acesso e permanência nas
actividades de construção e mediação imobiliária, e disponibilização de
informação relativa a empresas qualificadas (construção e mediação imobiliária)
de interesse para os diversos parceiros públicos são alguns dos pontos chave
desta - emblematicamente baptizada de "Interligação para a eficácia".

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