Conoze.com - 26 Maio 09

 

O feminismo caducado
María Calvo Charro

 

Temos de exigir que a actividade profissional se adapte à nossa condição feminina, e não ao contrário.

 

Na luta pela igualdade entre os sexos, nós, as mulheres, assumimos de forma espontânea que os papéis masculinos eram os acertados e dignos de imitação.

 

Escondemos os nossos sentimentos por medo de pensarem que éramos fracas, tentámos ser frias e competitivas, e exibimos um aspecto varonil. Sacrificámos a nossa alma feminina para em troca ser aceites no universo masculino, e assim atraiçoámo-nos a nós mesmas, renunciando à feminilidade que nos é consubstancial.

 

Recordemos Concepción Arenal. Em meados do século XIX, assistia às aulas de Direito da Universidade Complutense com roupa de homem, para satisfazer o seu interesse por fazer esse curso. E Clara Campoamor, em 1931, que na luta pelo direito ao voto feminino, renunciou à sua condição de mulher: «Senhores Deputados: eu, antes de ser mulher, sou um cidadão».

 

O feminismo igualitário e a ideologia de género conseguiram fazer que a sociedade incorporasse a ideia de que trabalhar em casa, ser boa esposa e mãe, é um atentado à dignidade da mulher, coisa humilhante, que degrada, escraviza, e torna impossível desenvolver-se em plenitude. Para ser moderna, a mulher tem de libertar-se do jugo da feminilidade, em especial da maternidade, vista como sinal de repressão e submissão: a ditadura da procriação.

 

Esta ideologia, implantada nas mais altas instâncias políticas, gerou o desprestígio em torno das mulheres que trabalham em casa ou se dedicam aos filhos, e estigmatiza-as, em contraste com aquelas que renunciam à maternidade ou ao cuidado personalizado dos filhos para se «realizarem» profissionalmente, que são tidas como heroínas libertadas e paradigmas da emancipação.

 

Esta inversão de estereótipo, favorecida pela atitude de algumas líderes políticas, distorce a imagem real das mulheres e prejudica a vida familiar, pois favorece a organização laboral como se as obrigações familiares não existissem.

 

Longe do mundo idealizado das imagens estereotipadas de mulheres hiper-libertadas que exultam na sua pletórica vida profissional, na vida real cruzamo-nos com demasiadas mulheres que, apesar do seu rotundo êxito profissional, se sentem pessoalmente frustradas e insatisfeitas, cansadas de imitar os modos de agir masculinos, amarradas a uns papéis que não lhes pertencem e que não encaixam na sua essência mais profunda.

 

Mulheres que mostraram, de sobra, que são tão capazes como qualquer homem de trabalhar com brilho e eficácia, a quem a sua natureza, rejeitada e reprimida, depois se faz cobrar em forma de depressão, ansiedade e infelicidade. Chegou o momento de reivindicar que a actividade profissional se tem de adaptar à nossa condição feminina e não ao contrário.

 

O novo feminismo defende um reconhecimento social para o trabalho da mulher, cuja forma de ver a vida e compreender a realidade é um valor inquestionável que deverá reflectir-se numas condições laborais específicas e, portanto, não idênticas às dos homens; com uma especial atenção à maternidade, que, longe de ser opressiva, é, na maioria dos casos, profundamente libertadora, enriquecedora, e torna a mulher um ser mais pleno.

 

Está na hora de reclamar a nossa peculiar «memória histórica», exigindo a devolução da nossa integridade e dignidade femininas, sem as quais nenhuma mulher pode alcançar o equilíbrio pessoal e a felicidade. Porque para a mulher, ser mulher é tudo. E o resto, é apenas só o resto.