Estudo da Associação Portuguesa de Famílias
Numerosas Mulheres portuguesas gostariam de ter em média
três filhos Romana Borja-Santos
Se os filhos fossem apenas uma questão de vontade as
mulheres portuguesas queriam ter, em média, três.
Mas há vários factores que as levam a pensar ter
apenas um, dois, ou mesmo nenhum, fazendo com que a
média se situe apenas nos 2,1. As razões que
justificam esta diferença entre desejo e
concretização são descritas pela Associação
Portuguesa de Famílias Numerosas num estudo
publicado hoje.
Intitulada "Número de Filhos", a sondagem demonstra
que "o número desejado de filhos é francamente
superior a 2,1 em todas as faixas etárias". Por
isso, o presidente da APFN, Fernando Ribeiro e
Castro, defendeu, em declarações ao PÚBLICO, que em
Portugal o que falta é "criar condições que permitam
a concretização deste desejo", pois o que está em
causa é a "imprescindível substituição de gerações e
a sustentabilidade do país".
De acordo com o documento, mais de 50 por cento das
jovens entre os 18 e os 24 anos gostaria de ter três
ou mais filhos, enquanto um quarto das mulheres até
aos 30 gostaria de ter quatro ou mais. Ainda assim,
verifica-se uma diferença entre as pessoas que estão
casadas ou que vivem em união de facto, que "parecem
desejar ter menos filhos que as casadas". Apesar
disso, apenas 17 por cento das mulheres pensa que
concretizará o desejo de ter três ou mais filhos.
"As maiores diferenças entre o número desejado de
filhos e os que pensam vir a ter estão nas mulheres
entre os 25 anos e 34 anos", diz também o estudo. A
principal razão é a percepção de que os "os filhos
são caros e que as pessoas não têm condições para
suportar alimentação, vestuário e despesas
escolares".
Licença parental não é o mais importante
Além das questões financeiras, as pessoas
entrevistadas admitem que é difícil encontrar um
trabalho que lhes permita continuar a acompanhar os
filhos e conciliar tudo com a vida conjugal. Neste
ponto o presidente da APFN critica o facto de as
famílias divorciadas terem mais benefícios, o que
contribui para a instabilidade. Em terceiro lugar
surge a ideia de "quero dar-lhes tudo aquilo que não
tive" e em quarto as questões relacionadas com a
habitação.
A proximidade entre casa, emprego e escola é também
um dos problemas mencionados. Aqui, segundo a APFN,
seria muito importante que as autarquias apostassem
mais nas habitações para famílias do que para
jovens, pois são os primeiros que "precisam de viver
no centro da cidade", explicou o presidente da
associação. "As questões relacionadas com mais
licenças de trabalho são percepcionadas pelas
mulheres como de última ordem", referem os autores.
Sobre esta questão, Fernando Ribeiro e Castro pede
uma apreciação prudente: "Isto significa que as
famílias estão satisfeitas com o que foi feito neste
domínio e não que o desvalorizam".
Quanto a apoios financeiros em sede de IRS que
podiam contribuir para que os casais tivessem mais
filhos, os pais valorizam especialmente as deduções
das despesas essenciais dos filhos e de despesas com
educação e habitação, assim como pedem um aumento do
abono de família - que devia ser de pelo menos 100
euros por cada filho, independentemente da situação
económica, estado civil dos pais ou número de
irmãos. No que diz respeito a apoios escolares, os
pais colocam em primeiro lugar a possibilidade de
verem paga a escola ou creche que escolherem, o que
para a APFN é uma questão de "liberdade" e mais
barato do que "investir milhões da modernização das
escolas".
Se olharmos para os dados agrupados por tendências
partidárias, mantêm-se as mesmas percepções gerais.
Mas as inquiridas que votaram PSD consideraram mais
apelativa a opção de ficar em casa com uma
remuneração, do que as mulheres que apoiam outros
partidos. Esta generalização de vontades é sinal,
para Fernando Ribeiro e Castro, que as necessidades
dos pais são transversais às cores partidárias e
que, por isso, o Governo está também a ir contra os
seus eleitores.
A sondagem foi feita entre 19 de Fevereiro e 3 de
Março a 829 mulheres entre os 18 e os 49 anos,
residentes em Portugal e com telefone fixo. A margem
de erro é de 3,5 pontos e o grau de confiança de 95
por cento.