Lojas discount e produtos brancos ganham espaço Portugueses mudam-se para supermercados mais
baratos Ana Rita Faria
Com a inflação a aumentar e os salários a
manterem-se no mesmo ponto, os portugueses sentem
cada vez menos dinheiro no bolso. A agravar o
cenário, os preços dos produtos alimentares disparam
a cada dia que passa e tornam cada vez mais pesados
os custos com a alimentação. Solução? A procura de
alternativas mais económicas. O segmento das lojas
discount (como o Lidl, Minipreço, Plus ou Netto) e
as marcas próprias das grandes cadeias estão a ser
alguns dos beneficiários com esta mudança dos
hábitos de consumo.
No ano passado, os discount foram o formato de loja
a registar maior aumento (14 por cento) no gasto
médio dos lares em valor; os supermercados
aumentaram dez por cento e os hipermercados quatro
por cento, de acordo com uma análise realizada pela
empresa de estudos de mercado AC Nielsen. A seguir
aos supermercados e aos hipermercados, os discount
são o local preferido para as compras dos
portugueses e foram mesmo os que registaram um maior
aumento de quota de compras em 2007 - de 15,8 para
17,4 por cento.
Paralelamente, também as marcas próprias estão em
destaque e crescem a uma taxa superior à do mercado.
Segundo a Nielsen, aumentaram a sua quota de compras
de 23,7 para 27,5 por cento no ano passado e estão
já a alargar terreno este ano. Curiosamente, estão a
conseguir mais popularidade precisamente nos
produtos que têm sofrido uma maior subida dos
preços, o que quer dizer que o impacto da crise
alimentar está também a levar os portugueses a
introduzir alterações nos seus hábitos de consumo.
De acordo com um estudo da TNS Worldpanel, uma
empresa de estudos de mercado sobre o consumidor, as
famílias portuguesas gastaram no primeiro trimestre
deste ano mais 6,2 por cento em alimentação do que
no mesmo período do ano passado. Assim, de 353,7
euros nos primeiros três meses de 2007 passaram a
gastar 375,7 euros no início deste ano. Na subida
dos custos com a alimentação pesaram sobretudo as
variações de 2007 para 2008 dos gastos médios com
massas alimentícias (mais 34,4 euros), arroz (19,4)
e leite UHT (16,9).
Os consumidores saíram a perder, mas as marcas
próprias ficaram a ganhar. Segundo a Nielsen, a
quota de valor das marcas próprias (em
hipermercados, supermercados e lojas tradicionais,
exceptuando o Lidl) acompanhou o aumento dos preços
nos produtos alimentares no início deste ano. As
massas alimentícias ganharam a dianteira, com mais
6,1 por cento de quota (de 25,4 no início de 2007
para 31,5 em 2008), seguindo-se o leite UHT, com
mais 4,5 por cento, e o arroz, com mais 3,6.
A manter-se esta correlação entre preços elevados e
marcas próprias, o ano de 2008 será bastante
favorável a este segmento do mercado. Fundando-se em
dados avançados pela Comissão Europeia em relação ao
aumento dos preços das matérias-primas, a TNS estima
que as famílias portuguesas vão gastar este ano mais
620 euros em alimentação do que no ano passado, ou
seja, uma média de mais 50 euros por mês. Assim, de
uma despesa de 1591 euros em 2007, as famílias vão
passar a uma outra de 2211 euros em 2008. Quem vai
sofrer o maior impacto vão ser as famílias de
rendimentos baixos e médios que sejam,
simultaneamente, as mais numerosas. Uma condição que
abrange actualmente cerca de 528 mil lares e mais de
2,1 milhões de portugueses.