Marta Gomes, de 37 anos, é mãe a tempo inteiro há
12. Não se arrepende: "Pelo contrário, sinto-me
privilegiada"
Não recebe um salário, mas tem horários rígidos para
cumprir. "Levanto-me todos os dias às 8h00. Faço o
pequeno-almoço para a família e visto os meus filhos
para a escola. Ao meio-dia vou buscar a minha filha
para almoçar, levo-a de volta à escola e preparo o
almoço para mim e para o meu marido." Marta Gomes,
de 37 anos, casada e mãe de dois filhos, é uma das
mulheres portuguesas que não exercem nenhuma
profissão no exterior. Mas trabalha. E muito. "À
tarde, vou buscar os filhos à escola, ajudo-os nos
trabalhos de casa, preparo o jantar e, no meio,
tenho que fazer a lida de casa."
A opção deu-se há 12 anos, com o nascimento do
primeiro filho. "O André prendeu-me mais em casa
devido a problemas com alergias e ao facto de ter
Asperger [síndrome do espectro autista que pode
acarretar dificuldades de interacção social,
interpretação muito literal da linguagem e
dificuldade com mudanças, entre outros aspectos].
Era preciso acompanhá-lo muito de perto, levá-lo ao
psicólogo...".
Na altura, Marta trabalhava numa empresa de leasing.
A decisão de se tornar mãe a tempo inteiro pareceu a
solução mais natural. E a mais económica também.
Sobretudo quando, seis anos depois, nasceu a Joana.
"A conclusão a que eu e o meu marido chegámos foi
que ficava muito mais barato. Não compensava eu ir
ganhar um salário de 500 euros com o dinheiro que ia
gastar em transportes, almoços, empregada...".
As vantagens vão muito para além do aspecto
económico. "Consegui dar de mamar aos meus filhos
durante um ano e meio. O André só foi para o
infantário aos seis anos e a Joana já tinha quatro."
Nos anos que se seguiram, Marta Gomes conseguiu
acompanhar com pormenor o desempenho escolar de cada
um. "Ajudo-os a fazer os trabalhos de casa, e também
sou cozinheira, enfermeira, motorista...".
Nada arrependida da sua decisão, Marta Gomes sabe
que o facto de pertencer à escassa percentagem de
mulheres portuguesas que deixaram a profissão para
cuidar dos filhos pode causar estranheza. "Até
machista já chamaram ao meu marido." Mas, 12 anos
depois, já se habituou a encolher os ombros perante
aqueles que encaram como menor a profissão de mãe a
tempo inteiro. "Há pessoas que estão sempre a dizer
que eu devia ir trabalhar, distrair-me. É verdade
que falo com poucas pessoas durante o dia, mas tenho
uma vida muito ocupada que me permite, além disso,
ir ao ginásio, pintar, fazer montagem de vídeos...",
conta, garantindo que o facto de não ter salário não
lhe tolhe os passos. "Temos uma conta bancária
conjunta, eu faço as despesas que preciso e o meu
marido nem quer ouvir falar disso." Ou sequer a faz
sentir-se amputada. "Pelo contrário, sinto-me
privilegiada e acho que os meus filhos também são."