O presidente da República lamentou no discurso do
"25 de Abril", um discurso que já foi solene e já
foi importante, o desinteresse da juventude pela
política. A audiência concordou. Mas, sinceramente,
o que esperam os políticos? Desde que se puseram aí
a abraçar e a beijocar o povo e a pedir um minutinho
de televisão para se exibir, perderam a
inacessibilidade e a autoridade e, perdendo isso,
não lhes ficou muito. Para começar, não são gente
susceptível de atrair ninguém. Tirando Mário Soares,
que é uma "estrela" natural, e até certo ponto
Marcelo Rebelo de Sousa, o resto, mesmo no seu
melhor, não passa de uma pequena multidão indistinta
e mesquinha. Há um ou outro videirinho, um ou outro
aventureiro, um ou outro louco - um grande homem ou
uma grande mulher não há. Quem vai perder tempo com
as mediocridade que, só Deus sabe porquê, nos
pastoreiam hoje?
E que têm elas para oferecer, além de uma retórica
morta e desprezível. A guerra do século XX entre a
liberdade do Ocidente e o comunismo russo acabou
para sempre. Em 2008, ninguém pensa em ir morrer
heroicamente na guerra de Espanha ou em entrar aos
17 anos na vida horrível e brutal da clandestinidade
como Zita Seabra. Quando por acaso "adere" a um
partido, a juventude que por aí anda quer, como lhe
compete, um emprego. Não se lhe pode pedir que
queira diferente ou queira mais. Seria absurdo que a
redução do défice e a "modernização" de Portugal
inspirassem qualquer espécie de fé, dedicação ou
sacrifício. Pior ainda: é Bruxelas quem manda no
défice e a "modernização " de Portugal é uma coisa
tão larga e tão ambígua que, na prática, não existe.
Que escolha fazer perante o vácuo?
Uma escolha pessoal, evidentemente. No século XX, um
indivíduo poucos vezes se sentia, por assim dizer,
"fora da história". Era pela liberdade contra a
ditadura, pela nação contra a revolução, pelo
proletariado contra a burguesia. Não era neutro com
facilidade. O destino de cada um não se distinguia
com precisão do destino colectivo, como o PREC
durante uns meses pareceu demonstrar em Portugal.
Agora, com a democracia estabilizada e a economia de
mercado, o indivíduo não pertence a "parte" alguma e
não partilha nenhum destino. Aprendeu a desconfiar
do Estado e da mítica igualdade que o Estado
pretende estabelecer; e, sobretudo, a contar
exclusivamente consigo. Não vê a política como um
encontro e uma comunidade. Vê a política como um
negócio e uma questão de clientelas. Não se
interessa? Claro que não se interessa.