Público - 03 Mai 08

 

O desinteresse pela política
Vasco Pulido Valente

 

O presidente da República lamentou no discurso do "25 de Abril", um discurso que já foi solene e já foi importante, o desinteresse da juventude pela política. A audiência concordou. Mas, sinceramente, o que esperam os políticos? Desde que se puseram aí a abraçar e a beijocar o povo e a pedir um minutinho de televisão para se exibir, perderam a inacessibilidade e a autoridade e, perdendo isso, não lhes ficou muito. Para começar, não são gente susceptível de atrair ninguém. Tirando Mário Soares, que é uma "estrela" natural, e até certo ponto Marcelo Rebelo de Sousa, o resto, mesmo no seu melhor, não passa de uma pequena multidão indistinta e mesquinha. Há um ou outro videirinho, um ou outro aventureiro, um ou outro louco - um grande homem ou uma grande mulher não há. Quem vai perder tempo com as mediocridade que, só Deus sabe porquê, nos pastoreiam hoje?

 

E que têm elas para oferecer, além de uma retórica morta e desprezível. A guerra do século XX entre a liberdade do Ocidente e o comunismo russo acabou para sempre. Em 2008, ninguém pensa em ir morrer heroicamente na guerra de Espanha ou em entrar aos 17 anos na vida horrível e brutal da clandestinidade como Zita Seabra. Quando por acaso "adere" a um partido, a juventude que por aí anda quer, como lhe compete, um emprego. Não se lhe pode pedir que queira diferente ou queira mais. Seria absurdo que a redução do défice e a "modernização" de Portugal inspirassem qualquer espécie de fé, dedicação ou sacrifício. Pior ainda: é Bruxelas quem manda no défice e a "modernização " de Portugal é uma coisa tão larga e tão ambígua que, na prática, não existe. Que escolha fazer perante o vácuo?

 

Uma escolha pessoal, evidentemente. No século XX, um indivíduo poucos vezes se sentia, por assim dizer, "fora da história". Era pela liberdade contra a ditadura, pela nação contra a revolução, pelo proletariado contra a burguesia. Não era neutro com facilidade. O destino de cada um não se distinguia com precisão do destino colectivo, como o PREC durante uns meses pareceu demonstrar em Portugal. Agora, com a democracia estabilizada e a economia de mercado, o indivíduo não pertence a "parte" alguma e não partilha nenhum destino. Aprendeu a desconfiar do Estado e da mítica igualdade que o Estado pretende estabelecer; e, sobretudo, a contar exclusivamente consigo. Não vê a política como um encontro e uma comunidade. Vê a política como um negócio e uma questão de clientelas. Não se interessa? Claro que não se interessa.