Pais querem retirar manuais
A polémica sobre a educação sexual nas escolas continua. Agora
pela voz dos pais
A CONFAP (Confederação Nacional das
Associações de Pais) exige a suspensão imediata da utilização
dos livros e materiais pedagógicos espanhóis que constam na
bibliografia aconselhada pelos Ministérios da Educação e da
Saúde para a educação sexual nas escolas. «Esses
livros podem ser bons para Espanha, mas não os queremos cá. Não
se adaptam à nossa realidade», disse ao EXPRESSO Albino
Almeida, o dirigente máximo da confederação, representante de
mais de 300 mil pessoas.
Há duas semanas, o EXPRESSO publicou um texto
sobre esta matéria, que ilustrou com desenhos retirados desses
manuais. A polémica instalou-se e nos últimos dias, além do
lançamento de várias petições, as federações da Confap reuniram
e produziram documentos que serão tratados no encontro do seu
órgão máximo na próxima semana. «Até ao momento não
detectámos nenhuma escola onde os materiais tivessem sido
usados», disse Albino Almeida.
O Ministério da Educação - responsável pela
gestão e aplicação dos programas escolares - também não ajuda a
esclarecer esta dúvida. Nomeadamente sobre se as escolas usaram
estes materiais aconselhados ou quantos alunos e de que idades
foram abrangidos por esta iniciativa. Até ao fecho desta edição,
o gabinete de Lurdes Rodrigues informou apenas que tinha sido
pedido um parecer ao Conselho Nacional da Educação, um órgão
meramente consultivo do Governo. Ainda na semana passada, o
mesmo Ministério tinha publicamente assumido «não
existirem manuais escolares», nem tão pouco
«disciplina de Educação Sexual nos currículos quer do ensino
básico quer do secundário». Fica assim por esclarecer o que
foi pedido realmente ao CNE. O responsável deste Conselho -
Manuel Porto - encontrava-se ausente, esta semana, não tendo
sido possível contactá-lo.
Zita Seabra
apresentou queixa
. Entretanto, a Associação Portuguesa das
Famílias Numerosas (APFN) pediu ontem à ministra Lurdes
Rodrigues que lesse as Linhas Orientadoras, nomeadamente as
recomendações a «obras de referência». E
insistiu para que se «investigue a sério o que se
está a passar, uma vez que consideramos o assunto de máxima
gravidade», lê-se no comunicado da APFN. A associação apela
ainda a quem tem filhos que adira às petições que circulam em
papel e na internet numa iniciativa do MOVE, um movimento de
pais criado após as notícias publicadas no EXPRESSO.
O Movimento Associativo e Federativo de Pais
e Encarregados de Educação de Portugal - o mais recente desde
que começou a polémica e que representa cerca de 20 mil pessoas
- vai mais longe que a Confap nas exigências feitas ao
Ministério da Educação, não limitando as suas preocupações à
utilização dos livros espanhóis. Há livros propostos na
bibliografia, de autores portugueses ou traduzidos para a nossa
língua, que propõem jogos como encontrar sinónimos para os
órgãos genitais. Outros manuais sugerem peças de teatro em que
parte da turma é «turista» e outra faz parte de uma população
homossexual visitada pela outra.
Paralelamente às audiências pedidas ao
Presidente da República e ao primeiro-ministro, este movimento
quer que a ministra da Educação responda às seguintes questões:
quais as escolas que tiveram acesso ao modelo de educação sexual
previsto nas Linhas Orientadoras, que tem a chancela da APF
(Associação para o Planeamento da Família), se os pais tiveram
conhecimento prévio das acções e se estas estavam previstas no
projecto curricular de turma.
A deputada do PSD Zita Seabra é uma das
pessoas que se solidarizaram com este movimento.
«Não fiquei espantada com o que li no EXPRESSO. Quando uma das
minhas filhas estava no 9.º, numa escola pública de Lisboa, foi
obrigada a responder a um inquérito feito por um professor na
sala de aula. Perguntas como ‘já tiveste relações sexuais’ e
‘tiveste relações sexuais com animais’ foram feitas. Depois de
obrigar a escola a dar-me o inquérito, queixei-me ao então
ministro da Educação, Oliveira Martins, que ordenou um
inquérito», contou ao EXPRESSO.
Surpreendida diz ter ficado a deputada
socialista Maria do Rosário Carneiro, que ainda não decidiu
apoiar o Movimento Associativo e Federativo de Pais e
Encarregados de Educação. «Apesar de ter votado
contra esta lei, só conheço o que li no EXPRESSO. Há factores
perturbadores. A educação sexual é uma entre muitas dimensões do
ser humano, da personalidade e como tal não pode ser dissociada
das outras. As relações pressupõem afectos, auto-estima,
responsabilidade e liberdade, autocontenção. Não é assim que se
reduzem as gravidezes entre adolescentes ou os casos de sida.
Aquilo que li exige dos responsáveis uma reflexão», defende
a deputada da bancada do PS.
Monica Contreras e Rosa Pedroso Lima