Diário de Notícias - 15 Mai 05
Medidas urgentes para a
família ficaram na gaveta
Famílias numerosas querem
abonos actualizados e bilhetes especiais para transportes.
CGTP-IN defende o pagamento a 100% da maternidade
Francisco mangas
Céu Neves
Pagar
impostos nem sempre é uma obrigação indesejável. Pode ser, em
certos casos, a reconquista da cidadania, o regresso à vida em
sociedade. É isso, por certo, o que sentem 57 antigos "excluído
de rua" aderiram ao programa Porto Feliz, foram tratados,
encontraram um abrigo, a auto-espessoas para a aderência ao
programa de reinserção social." Os "100 compromissos para uma
política de família", anunciados há mais de um ano com pompa e
circunstância, ficaram na gaveta. Por fazer estão a revisão da
lei de protecção de crianças e jovens; a bonificação das pensões
em função do número de filhos, a redução dos custos dos manuais,
a criação de certificados "amigos da família" e o alargamento da
mediação familiar. O novo Governo assim que chegou prescindiu da
Coordenadora Nacional para os Assuntos da Família - já que o
ex-ministro Fernando Negrão tinha extinto o cargo em Janeiro -,
e manteve os técnicos e a "Linha Informar Famílias". Mas
políticas ainda não tem.
Este é o balanço no Dia Internacional da Família, numa altura em
que o presidente da Associação Nacional das Famílias Numerosas,
Fernando Castro, já criticou o Executivo de Sócrates dizendo
que, "pela primeira vez, em 25 anos, há um Governo que não tem
uma política de família. Nem sequer a palavra consta do programa
do Governo". E que a CGTP-IN já solicitou que o acréscimo na
licença da maternidade seja pago a 100%.
Quanto aos "100 compromissos" foram apresentados a 22 de Março
de 2004 por Durão Barroso, no Teatro D. Maria, nas comemorações
do 10.º aniversário do Ano Internacional da Família, e faziam
parte de um plano a cumprir até 2006. As medidas que já estavam
contempladas não foram reforçadas e as outras não saíram do
papel. Margarida Neto, a Coordenadora Nacional para os Assuntos
da Família (CNAF), assumiu o cargo com o ministro Bagão Félix em
Janeiro de 2003, para promover políticas no plano social,
económico e cultural. Mas o Governo de Durão Barroso terminou
funções dois meses depois da apresentação dos "100 compromissos"
e o trabalho da coordenadora resumiu-se a quatro páginas sobre a
participação em reuniões, simpósios, cooperação em estudos,
protocolos e publicações. Em suma, só acções que não dependiam
exclusivamente do seu gabinete e que um técnico do anterior
Governo traduz como "colagem às iniciativas dos outros".
As excepções são a "Linha Informar Famílias", que foi criada
antes da apresentação dos "100 compromissos"; o sítio
www.familia.gov.pt, um espaço informativo ainda com pouco
material disponível; e o Observatório para os Assuntos da
Família, cujo único projecto em que cooperou foi o estudo
comparativo das Políticas Familiares da Europa dos 15, ontem
apresentado pela ANFN.
Neste momento, faltam as medidas de fundo, sem contar com as que
foram introduzidas no novo Código de Trabalho. Mas, mesmo essas,
precisam de ser regulamentadas, como aconteceu recentemente com
a definição do montante do subsídio de maternidade nos casos em
que a licença é alargada para 150 dias.
O Governo socialista está a analisar as acções desenvolvidas e
promete manter as iniciativas que se tenham revelado eficazes. O
ministro do Trabalho e da Solidariedade Social integrou os oito
técnicos da CNAF na Direcção-Geral de Segurança, através de um
despacho assinado a 20 de Abril e com entrada em vigor este mês.
Vieira da Silva diz que o trabalho a desenvolver na área
"representa para este Governo uma dimensão relevante no conjunto
das novas políticas sociais", defendendo uma lógica de actuação
transversal.
Há a promessa de que "a nova Lei Orgânica do MTSS reforçará a
visibilidade das políticas de apoio às famílias". As novas
medidas de apoio ficarão com a secretária de Estado Adjunta e da
Reabilitação, Idália Moniz, mas ainda estão por definir. Uma
indefinição que também é criticada por Fernando Castro, que
ontem promoveu 20 conferências no País intituladas "Família,
Semente do Futuro".
Em termos de futuro, este dirigente defende a criação de medidas
de apoio às famílias numerosas, como a actualização dos abonos,
o alargamento da assistência ao agregado familiar de acordo com
o número de dependentes e a criação de bilhetes especiais para
os transportes públicos. Outra proposta é a implementação de um
"cheque ensino" para que os pais possam escolher a escola para
os filhos, pública ou privada.
A CGTP-IN defende o pagamento a 100% do acréscimo de 30 dias na
licença de maternidade e um montante mínimo do subsídio de
maternidade de 200 euros. Reivindica ainda a criação de
equipamentos sociais de qualidade e a preços compatíveis com os
rendimentos familiares e a adopção de políticas que garantam a
independência económica das famílias.