Público - 14 Mai 05
Amanhã é dia
internacional da família
Portugueses não
dispõem de meios para conciliar a vida familiar e profissional
Sofia Rodrigues
Os portugueses recorrem pouco ao trabalho em tempo parcial,
ao contrário de outros europeus, segundo uma análise comparativa
Portugal tem falta de medidas para incentivar
a conciliação da vida familiar e profissional. A desadequação
dos serviços de guarda das crianças aos horários de trabalho dos
pais é uma das falhas detectadas num estudo comparativo das
políticas familiares europeias. Os resultados do trabalho,
intitulado Estudo Comparativo das Políticas Familiares na Europa
dos 15 entre 1990-2004 são apresentados hoje à noite, em Lisboa,
numa sessão promovida pela Associação Portuguesa das Famílias
Numerosas, na véspera do Dia Internacional da Família.
"Portugal não tem uma política para a família", defende Joana
Pereira Vaz, uma das autoras do estudo. As falhas detectadas
encontram-se sobretudo ao nível da carência de estruturas de
apoio de guarda das crianças, na ausência de benefícios para
incentivar a natalidade e na falta de sensibilidade das empresas
para a necessidade dos pais terem mais tempo para os filhos, de
acordo com Joana Pereira Vaz, que avaliou as políticas dos
Quinze nos últimos 14 anos.
O trabalho foi encomendado pela Coordenação Nacional para os
Assuntos de Família (CNAF), organismo extinto pelo actual
Governo. Para a autora, a dissolução da CNAF também é reveladora
da importância que o país atribui ao assunto. A ex-presidente da
CNAF, Margarida Neto, que foi exonerada das suas funções, alerta
para o facto de ser a primeira vez, em 25 anos, que deixa de
existir um organismo governamental para a família (ver textos
nestas páginas).
Os países do Sul da Europa - Portugal, Grécia, Itália e Espanha
- são os que apresentam mais fragilidades nos incentivos
estatais de protecção à família, segundo Joana Pereira Vaz, da
Universidade Católica. Em Portugal, aponta, "a maior falha é na
conciliação da vida familiar e profissional". Um dos maiores
entraves a esta harmonização está na falta de maleabilidade dos
serviços de guarda das crianças (creches, infantários) a que os
pais precisam de recorrer para poderem trabalhar e na ausência
de outra opção (os cuidados de um familiar, por exemplo). É que
este tipo de serviço é contratado a tempo inteiro, "o que
constitui uma forte barreira quanto à maior utilização do
trabalho em part-time em Portugal", lê-se no estudo.
Recurso a amas
Muitos dos pais, segundo o documento, preferem recorrer a amas
com carácter informal (vizinhos ou familiares), "por permitirem
flexibilização do horário de trabalho e também um ambiente
familiar". Na Áustria, por exemplo, o Estado atribui um subsídio
aos pais para permitir que o pai ou a mãe fiquem em casa a tomar
conta das crianças mais pequenas, em vez de trabalharem os dois
e suportarem financeiramente um infantário. Trata-se de uma
opção de guarda das crianças inexistente em Portugal.
A falta de conciliação da vida familiar e profissional passa
também por factores culturais. "Apesar de Portugal já permitir
licença de paternidade de cinco dias para os homens, isso não é
bem aceite, sobretudo no emprego dos homens", afirma Joana
Pereira Vaz. Em relação às licenças de maternidade, a lei
portuguesa permite às mães gozar 20 semanas (embora as últimas
quatro só correspondam a um pagamento de 80 por cento do
salário), um tempo próximo de outros países europeus, mas sem
outro tipo de apoios que é dado noutros Estados-membros da União
Europeia. Por exemplo, a Finlândia permite uma licença de
maternidade de apenas 14 semanas com um subsídio a 70 por cento,
mas a mãe pode optar entre um subsídio de 140 euros ou um pacote
de maternidade com artigos para bebé.
Outra das diferenças apresentadas por Portugal face a outros
países, sobretudo em relação ao Reino Unido, está na
reintegração das mães no mercado de trabalho depois de ficarem
em casa a tomar conta dos filhos e terem deixado de trabalhar
por um período alargado de tempo. "No Reino Unido, há mais
facilidade de retomar o trabalho", afirma Joana Pereira Vaz,
sublinhando a maior sensibilidade das empresas para o assunto.
Os melhores exemplos de políticas para a família, segundo a
autora, encontram-se em países nórdicos: a Áustria e a
Dinamarca. Neste último caso, o Estado atribui um subsídio anual
de 1300 coroas (cerca de 175 euros) às crianças com idades
compreendidas entre os três e os 12 anos. A Áustria, que também
tem este mesmo tipo de benefício, lançou uma auditoria junto das
empresas para saber como é que prestavam apoio familiar.
Apesar das medidas tomadas, nenhum destes países "conseguiu
fazer substituição de gerações", sublinha Margarida Neto. Pelo
menos até agora