Foi uma das
últimas diligências de Bagão Félix como ministro das
Finanças: uma nota com carácter de urgência a acompanhar a
auditoria da Inspecção-Geral das Finanças sobre o Instituto
Português da Juventude (IPJ). O relatório suscita «profunda
preocupação».
Bagão Félix despacha-o para o ministro-adjunto do
Primeiro-ministro e à atenção do próximo Governo no dia 2 de
Março deste ano, uma semana antes da tomada de posse do
executivo de Sócrates.
A auditoria envolve quatro anos: de 2001 ao primeiro
semestre de 2004, abrange socialistas e social-democratas.
Em causa, os apoios financeiros do Estado ao Instituto
Português da Juventude, gestor de subsídios a fundo perdido
para a área da juventude na ordem dos 40 milhões de euros.
A Inspecção-Geral das Finanças chega a conclusões muito
graves: indícios de infracções criminais e indícios de
ilegalidades financeiras.
Os indícios de crime recaem na aplicação de verbas em
fins diferentes dos previstos, concretamente, 751 mil euros
que foram parar à MoviJovem (cooperativa de interesse
público detida em 80 por cento pelo IPJ e em 20 por cento
pela Associação de Utentes das Pousadas da Juventude). Esses
751 mil euros, inicialmente destinados a obras nas pousadas
de juventude, acabaram aplicados na compra do edifício da
sede da MoviJovem e no equipamento do respectivo edifício.
Considerado crime de desvio de subvenção ou subsídio, ou
crime de burla qualificada, o caso foi denunciado ao
Ministério Público com a identificação dos responsáveis pela
MoviJovem.
Mas, as ilegalidades entre o IPJ e a MoviJovem não se
ficam por aqui. A auditoria da Inspecção-Geral das Finanças
identifica ainda 1 450 mil euros entregues pelo Instituto
Português da Juventude à MoviJovem, aplicados em despesas
correntes das quais não foi apresentada a correspondente
justificação.
Quanto aos indícios de ilegalidades financeiras, a
auditoria denuncia adiantamentos sem fundamento legal na
ordem dos cinco milhões de euros. Uma vez mais, a MoviJovem
aparece citada. Em 2001/2003, a cooperativa recebeu mais de
4 milhões de euros para intervenções em pousadas da
juventude. A auditoria propõe a comunicação destas e doutras
ilegalidades ao Tribunal de Contas e identifica os
responsáveis pelas gerências do IPJ de 2000 a 2003.
A Inspecção-Geral das Finanças recomenda ainda ao IPJ que
exija a reposição de dinheiros públicos num total de 3 3000
mil euros, caso não sejam apresentadas provas documentais
que justifiquem correctamente as despesas realizadas.
A TVI tentou entrevistar várias pessoas que exerceram
funções ou no IPJ ou no Governo durante o período abrangido
pela auditoria, mas até hoje todos se recusaram falar.