Correio do Vouga - 11 Mai 05
O direito à vida: circunstâncias e decisão
do Presidente da República
O movimento de defesa da vida nasce entre nós perante a
evidência de que o Estado pretende demitir-se da protecção à
vida intra-uterina e à maternidade. O
Estado, a quem cabe defender e proteger os mais carenciados,
parece agora querer entregar seres humanos, durante os primeiros
meses de vida, ao arbítrio das circunstâncias que os rodeiam.
Cada vez que uma força política se declara, enquanto
poder, adepta da liberalização do aborto, declara-se incapaz, e
abdica de proteger e de dar condições
para que vidas humanas o possam ser.
Perante esta falência do Estado, impõe-se um papel forte da
sociedade. Por isso, vemos com empenho
redobrado o trabalho feito por instituições de
apoio a grávidas e a crianças; movimentos que contrapõem
ao poder político argumentos e valores não ignoráveis;
colunistas e "opinion-makers" que mostram
a fragilidade de uma civilização onde a vida não tem valor
absoluto, a irresponsabilidade toma foros de direito (ao
aborto) e o relativismo egoísta impera.
A FEDERAÇÃO PORTUGUESA PELA VIDA, herdeira desta unidade em
torno da CIVILIZAÇÃO DA VIDA, torna clara
esta consciência social que se sobrepõe
(como vimos em 1998) a uma certa elite política que se diz
esclarecida e progressista, mas é, tão
só, portadora de uma cegueira ideológica.
O Presidente da Republica, ao rejeitar, no passado 2 de Maio,
novo referendo ao Aborto, fê-lo
seguramente por questões de conjuntura política
como disse em comunicado. Mas a decisão não se esgota nos
aspectos conjunturais. No início de nova Legislatura na
Assembleia da Republica, é aquela decisão, não só ditada pela
força das circunstâncias, mas também uma
resposta positiva para aqueles e aquelas que terão filhos, ainda
que carecidos de apoio, um alerta ao governo para que não resuma
a agenda política à problemática do aborto, um apelo à
responsabilidade na cidadania, e por fim a constatação de que as
circunstâncias que em 98 levaram à vitória do NÃO ao ABORTO, não
se alteraram, mantendo-se válida a
consulta de então.Toda a lei penal tem aspectos estigmatizantes
e indesejáveis, mas neste caso há que
perguntar - Quantos milhares de vidas não se salvam por ser o
aborto sancionado penalmente?A decisão do Presidente da
Republica é também assim um convite a que se
continue a salvar vidas humanas.
Isilda Pegado
Presidente da Federação Portuguesa Pela Vida