Diário de Notícias - 25 Mai 04
Carreiras de 40 anos dão reforma por inteiro
CARLA AGUIAR
Bagão Félix levantou ontem a ponta do véu sobre as alterações que
pretende introduzir no regime de reformas antecipadas. «As pessoas
com 40 anos de carreira contributiva não terão qualquer tipo de
penalização», garantiu o ministro da Segurança Social e do Trabalho,
à saída de mais uma reunião de Concertação Social. O mesmo já não se
poderá dizer de quem tenha menos descontos, que será penalizado.
Sobre o agravamento da taxa de penalização por cada ano de
antecipação da reforma face à idade legal, Bagão Félix refutou os
valores a que, minutos antes, João Proença se tinha referido como
sendo hipóteses estudadas pelo
Governo. «Nem pensar em valores de 6%, ou mesmo de 5,5%», retorquiu.
Com esta afirmação, o ministro dá um sinal de que, tal como já tinha
admitido no início do seu mandato, a taxa de penalização, que é
actualmente de 4,5%, poderá crescer para 5% ou mesmo um pouco mais,
mas sem chegar aos 5,5%. A hipótese dos 5% sai reforçada quando
Bagão Félix lembra que os estudos actuais feitos por técnicos do
ministério dizem que o valor neutro, sem perdas nem ganhos para a
Segurança Social, é de 5%. «Se o Governo anterior optou por uma taxa
inferior, só pode ter sido seguramente por motivos de bondade
social», ironizou. Sobre esta matéria os parceiros sociais
conhecerão, até final da próxima semana, um texto com as ideias
orientadoras do ministro, mas que ainda não corresponderá a um
projecto de lei. Este, tal como o DN havia noticiado, incidirá sobre
várias situações de reforma antecipada, desde a subsequente ao
desemprego às relacionadas com as profissões de desgaste rápido, com
diferenciações em função de idades e de carreiras contributivas.
Actualmente, os trabalhadores com 30 anos de contribuições podem
aposentar-se com menos de 65 anos, mas sofrem uma penalização de
4,5% por cada ano de antecipação.
Pela UGT, João Proença disse ser fundamental que o Governo proteja a
situação dos trabalhadores que têm actualmente mais de 55 anos.
Aquele dirigente sindical acusou ainda o ministro de não estar a
separar o trigo do joio na questão das reformas antecipadas. «O tipo
de antecipação que está a criar problemas à Segurança Social é o
seguido por muitas empresas que, de forma fraudulenta, conduzem as
pessoas para a reforma e depois as contratam ilegalmente para fazer
o mesmo e ganhando menos». Quando às outras situações, lembrou que
correspondem, na grande maioria dos casos, a despedimentos
colectivos encapotados e que as actuais penalizações já são
suficientemente dissuasoras.
SUBSÍDIO DESEMPREGO. Tanto as confederações sindicais como as
patronais receberam com desagrado o projecto de lei do novo regime
do subsídio de desemprego. Do lado sindical, o principal factor de
preocupação vai para o novo conceito de «emprego adequado», que
permite que «um desempregado do Algarve seja obrigado a aceitar um
trabalho nos Açores, bastando para isso que a entidade patronal
ofereça alojamento». Por outro lado, Maria do Carmo Tavares, da CGTP,
diz que, ao reduzir o universo de elegíveis para o subsídio social
de desemprego, o Governo vai poupar dinheiro à custa dos
desempregados, posição que é partilhada pela UGT. Já as
confederações patronais não estão satisfeitas com as penalizações ao
subsídio de desemprego resultante de rescisões amigáveis.
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