A Constituição
revista acrescentou agora a proibição de discriminação por
orientação sexual (mas, estranhamente, ainda não por idade ou
deficiência). A afirmação do princípio é boa, ao sublinhar o
respeito que todos merecem. Mas tem de estar sujeita à realidade das
coisas. Por exemplo, ela não vai permitir a orientação sexual
pedófila, pois não?
O campo onde a questão pode ser mais polémica é o da legalização do
casamento de homossexuais, que se tornou momentaneamente
avassaladora nos EUA e Europa. O tema cria fortes movimentações
legais e intensas discussões. Vem rodeado de tal fanatismo que não
faltam os que afirmam que quem for contra essa legalização é
automaticamente troglodita, intolerante e chauvinista.
Consideremos calmamente as coisas. O casamento é a união para vida
de uma mulher e um homem. Sempre foi assim e nunca houve dúvidas
sobre isto. Casamento quer dizer a união dos dois sexos, como o
almoço implica comida e valsa significa música. Sempre houve
homossexualidade e em certas épocas até foi bastante influente. Mas
casamento é entre homem e mulher. Há outros tipos de ligação, da
sociedade comercial à aliança entre Estados. Esta é a realidade dos
factos, qualquer que seja a opinião sobre homossexualidade, empresa
ou diplomacia.
A sociedade reconhece e o Estado sanciona esta ligação, como outras,
por causa dos seus benefícios comunitários. A família centrada no
casamento estável é a forma mais adequada de gerar cidadãos e de os
preparar para a vida, apoiar na doença e na velhice, além de
promover a felicidade e estabilidade geral das pessoas. Outros meios
falharam por completo. Isso vê-se bem hoje no Ocidente. Ao desprezar
a família em troca de «uma vida sexual e reprodutiva saudável,
gratificante e responsável», a taxa de natalidade está a cair, os
povos europeus estão em risco de extinção e a droga e depressões
prosperam.
Esta é a evidência das coisas e a objectividade dos factos. Mas se
os conceitos fundamentais forem definidos pela opinião de cada um,
nunca mais nos entendemos. Hoje são os homossexuais que querem
legalizar a sua união como igual ao casamento. Amanhã será a
poligamia (que até tem a vantagem de gerar mais prole), depois o
incesto, depois, porque não, a bestialidade. Se casamento é apenas a
expressão pública do amor, haverá quem queira proclamar legalmente a
sua paixão pela empresa, clube de futebol, automóvel ou jóias. Isto
parece-nos tão louco como pareceria aos nossos avós o que hoje se
quer fazer.
O mais curioso é que o casamento estava sob ataque até os
homossexuais o considerarem excelente. É já quase mais fácil
divorciar-se do que casar e defender o casamento era, até há pouco,
ofensivo para a dignidade das uniões de facto, que não podem ser
discriminadas. Toda a gente via os defeitos, falhanços e inanidade
do casamento.
Agora, por esta razão, descobrem-se as suas eminentes virtudes
insuspeitadas. Parece que afinal a união de facto, excelente para os
casais comuns, é inaceitável para homossexuais, e o seu casamento é,
não só necessário, mas indispensável.
Este é mais um assunto pseudo-controverso, que surge subitamente,
motiva acalorados debates e insultos, decide eleições... e
desaparece sem deixar rasto.
Neste caso, como em tantas questões polémicas, a lógica não anda
muito respeitada. Até teria graça, se não existissem tantos
problemas graves que ficam descurados entretanto.