Público - 20 Mai 03
Reforma do Secundário Tem de Mexer na Rede de Escolas
Por BÁRBARA WONG
A reforma do ensino secundário não deverá ser apenas curricular, mas tem de
mexer na rede de estabelecimentos de ensino. Por exemplo, uma escola
secundária deve ter liberdade para oferecer um curso profissional,
defende Joaquim Azevedo, ex-secretário de Estado dos
Ensinos Básico e Secundário nos governos de Cavaco Silva
e coordenador do estudo "Evolução da oferta e da procura
do nível secundário: que estratégia para o ensino tecnológico e
profissional?".
O trabalho, encomendado pela Sedes - Associação para o Desenvolvimento
Económico e Social, é hoje apresentado, em Lisboa. O estudo, divulgado
pelo PÚBLICO em Fevereiro, retrata este nível de ensino
entre 1992 e 2002 e conclui que a situação do secundário
é "crítica". A sua procura tem vindo a diminuir e os
níveis de insucesso e abandono "têm aumentado dramaticamente".
Numa altura em que se continua a discutir a revisão do ensino secundário -
as linhas orientadoras para o profissional e o artístico estão em
discussão até ao início da próxima semana -, Joaquim
Azevedo congratula-se com as alterações curriculares mas
alerta que é "fundamental" rever a rede de escolas. "Toda
a população tem igualdade nas opções que faz? Não. Então,
como deve ser melhorada a rede de oferta?", questiona o coordenador do
estudo.
Para Joaquim Azevedo, não há dúvidas. Existem escolas secundárias,
profissionais e centros de formação profissional; qualquer uma destas
instituições deveria ser livre de oferecer cursos gerais, tecnológicos,
profissionais, artísticos ou cursos de formação em alternância. O
professor dá como exemplo a região de Entre Douro e
Vouga, onde não existe qualquer escola profissional, mas
onde a escola técnica ou o centro profissional poderiam
oferecer cursos adequados à população local.
"Rentabilizar-se-iam as instalações e os recursos humanos", justifica
Azevedo, acrescentando que "o processo seria mais eficiente, mais eficaz
e que favoreceria a população e o país".
A proposta recentemente feita pelo Ministério da Educação para a revisão do
ensino profissional já responde a esta exigência. A tutela propõe
racionalizar e concertar a rede de oferta, de modo a que formações
semelhantes não se multipliquem numa determinada região; e que seja
possível criar cursos profissionais ou formações em
alternância mesmo em escolas secundárias.
O estudo da Sedes propõe que as várias modalidades de ensino sejam tratadas
com igual dignidade, mas que se aumente a oferta e procura de formações
técnicas e profissionais. De recordar que os finalistas do ensino
profissional têm a mais alta taxa de empregabilidade. O estudo mostra
ainda que a única via de ensino com algum sucesso é a
profissional. Nesta, 66 alunos em cada 100 concluem-na
nos três anos devidos. De resto, nos cursos gerais e nos
tecnológicos, apenas 24 e 44 por cento, respectivamente,
conseguem o diploma no mesmo lapso de tempo.
Joaquim Azevedo lembra também que o ministério deverá reforçar a orientação
profissional no 3º ciclo. No entanto, admite que, "num período de
contenção, seja difícil".

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