Público - 21 Mai 03
Instituto Piaget Suspendeu 25 Alunos por Praxes Violentas
Por ANA FRAGOSO
A direcção do Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros suspendeu por 15 dias
todos os alunos envolvidos na organização e realização do "tribunal de praxe",
na madrugada de sexta-feira, durante o qual terão sido agredidos, "física e
verbalmente", quatro estudantes do primeiro ano da Escola Superior de Saúde.
Entre os estudantes suspensos estão 18 elementos da Comissão de Praxes do
Instituto e sete alunos que integram a trupe académica (alunos mais velhos que
por norma andam trajados e encapuzados e que ao longo de todo o ano praxam os
caloiros fora do recinto do Piaget).
Durante o período de suspensão, o instituto vai fazer um inquérito e instruir
processos disciplinares a todos os alunos envolvidos na organização e realização
do referido evento, cujas sanções podem ir da simples repreensão escrita à
expulsão.
Segundo o relato dos queixosos, um dos caloiros recusou-se a obedecer a ordens
que lhe foram dadas no "tribunal de praxe" (uma espécie de tribunal onde os
estudantes mais velhos assumem o papel de juizes e advogados de defesa e
acusação, sujeitando os caloiros às mais diversas brincadeiras) e terá
abandonado o recinto onde as actividades decorriam. Já na rua, os caloiros terão
sido agredidos "com murros e pontapés" por "cinco elementos da trupe,
encapuzados".
O director do Piaget considera estes actos "inaceitáveis e gravíssimos". Luís
Cardoso diz que a direcção do Campus Académico "alertou pelo menos por duas
vezes, a 8 e 15 de Maio, os responsáveis da Comissão de Praxe para o facto
destas actividades estarem suspensas". Apesar das recomendações, os alunos
organizaram o "tribunal de praxe", o que o director considera uma afronta: "As
praxes estavam suspensas desde o dia 6 de Janeiro, depois da denuncia de abusos
da aluna do primeiro do curso de fisioterapia. Entretanto, fizemos umas jornadas
de reflexão sobre o assunto, de onde resultou uma carta de princípios que devia
servir de base par a elaboração dos novos códigos de praxe e para regular estas
práticas, mas ainda nem sequer se tinha partido para essa fase", argumenta. Essa
carta de princípios sugere regras que visam acabar de vez com os abusos: "Com os
novos códigos queremos expurgar tudo aquilo que tenha a ver com discriminação,
com obrigatoriedade de fazer algo, com hierarquias ou com a exclusão de
actividades da academia" defende.
Os 25 alunos suspensos foram informados "pessoalmente" da decisão. No instituto,
os estudantes recusam-se a comentar o assunto.
Movimento responsabiliza escola
O Movimento Anti-"Tradição Académica" (MATA), que faz da luta contra as praxes
um dos seus maiores cavalos de batalha, condenou ontem as cenas de "mais
violência em nome da tradição" ocorridas no Instituto Piaget de Macedo de
Cavaleiros e inclui no rol de responsáveis a própria escola.
Em comunicado, os dirigentes do MATA afirmam que "estes acontecimentos só se
tornam possíveis porque a Escola sempre apoiou estas actividades, directa ou
indirectamente, e também devido à negligência comprometida e vergonhosa com que
esta temática é encarada. Não só em Macedo de Cavaleiros, mas também um pouco
por todo o país".
Para além de considerar que "não é com a proibição ou suspensão administrativa
que se resolve este problema, até porque muito dificilmente ela será cumprida",
o MATA condena a resposta tardia da direcção da escola a um problema que merecia
outra atenção. "Achamos fantástico que só agora se demonstre interessado em
tomar medidas, especialmente tendo em conta que teve uma óptima oportunidade de
o fazer aquando do caso da Ana Sofia Damião. No entanto, nessa altura achou mais
adequado punir a aluna agredida com igual sanção aos agressores."
Na verdade, tanto a aluna que denunciou, no final do ano passado, os abusos de
que tinha sido vítima durante as praxes, como os estudantes que o fizeram, foram
condenados com a mesma pena: uma "repreensão escrita".
com Isabel Leiria

|