Público - 30 Mai 03

Pedagogia de Coração!

O ano lectivo, num ápice, chega ao fim. Ainda parece que ontem era Setembro,as férias tinham terminado e... já estamos outra vez com elas à porta, apreparar o próximo ano lectivo, que se prevê com muita agitação.

Foi um ano lectivo frenético, quer em termos de nova legislação que foi publicada, mas muito mais em relação àquela que o ministro David Justino"ameaça" alterar, como seja o Estatuto da Carreira Docente e a Lei de Bases do Sistema Educativo; a constituição dos agrupamentos, a que alguns chamam "ajuntamentos", também nos acompanharam no final deste ano com toda a "pompa e circunstância", não sabendo muitos órgãos de gestão das escolas se irão continuar a exercer as funções para as quais foram democraticamente eleitos, colocando em risco uma preparação atempada do próximo ano lectivo, com o objectivo de o respectivo arranque ser mais fácil.

Com tudo isto no nosso pensamento, e também no pensamento do nosso ministro, os números do insucesso e abandono escolar continuam a subir, colocando Portugal muito perto da cauda da Europa comunitária. E, para estes dois graves problemas, não se vislumbra qualquer solução palpável, sendo certo que não é qualquer diploma legal que os vai solucionar. Antes, devemos pensar em "enfrentar de caras" estas duas tristes realidades, sem complexos nem demagogias, mas assumindo-as e solucionando-as.

Mas julgo que a solução não passa por um diploma legal avulso do Ministério da Educação, mas antes de uma política global, que tenha em conta a família, primeiro sustentáculo do aluno; igualmente deve ter-se em conta outras instituições responsáveis na área educativa, e contar com elas; sobretudo, há que evitar que alunos com 14/15 anos atinjam o 5º ano sem saber ler e escrever!

Há que evitar que alunos com seis anos cheguem ao primeiro ano desinteressados da escola, daquilo que vão lá aprender! Uma forte e sustentada aposta no ensino pré-primário era meio caminho andado para tornear os dois problemas que atrás enunciei. Uma maior visibilidade e importância ao primeiro ciclo ajudava a diminuir drasticamente os números do insucesso e abandono escolar.

Enquanto isto, os professores encontram-se desmotivados e tristes, pois são "pau para toda a colher", exigindo-lhes tudo, mas mesmo tudo! Quantas vezes ouvimos os encarregados de educação dizer: "Jamais seria professor; admiro os professores, pois é preciso ter muita paciência para aturar e ensinar os jovens de hoje; no meu tempo não era nada disto!", com um misto de tristeza e complacência perante uma bola de neve que teima em não parar!

Contudo, nos gabinetes da "5 de Outubro", as preocupações vão também para as novas pedagogias, as práticas pedagógicas, as técnicas... a teoria! Os nossos alunos, esses, esperam há muito que lhes seja mostrada a "pedagogia de coração", sobretudo aqueles que se encontram dentro da escolaridade obrigatória. Esperam que lhes ensinem aquilo que de facto lhes faz falta para enfrentar a vida activa. Esperam que os "programas" sejam realistas e lhes ensinem a ler, escrever e contar. Esperam que os "programas" façam com que os professores tenham tempo para lhes contar e explicar que a "pedagogia de coração" é a mesma que os levou a abraçar a profissão mais bela do mundo: professor! Haja fé; a esperança é a última a morrer!

Filinto Lima, professor

Oliveira do Douro

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