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Público - 5 Mai 03 O caso das mulheres de Bragança - cujos maridos perdem a cabeça e a carteira com meninas de bar - ilustra de modo trágico-cómico a crise da família. Tínhamos acabado de saber que o número de divórcios saltara para metade do dos casamentos. Os matrimónios civis aumentam à custa dos católicos - mais estáveis. As relações simples aumentam à custa dos casamentos civis - também mais estáveis. Devemos deixar andar? Tudo joga contra a família habitual: pais, filhos, uma pitadinha de avós, q.b. de tios e primos - ou tias e primas. Vista do ângulo social, a família é o monopólio: do fornecimento de refeições, da organização das férias, da aprendizagem pré e pós-escolar, das heranças, da segurança na velhice - por exemplo. Estes monopólios desaparecem. Há cinquenta anos, os restaurantes eram raros - e os cavalheiros sós tinham que ir comer à "baixa"; hoje há um em cada esquina. Dantes, férias organizadas era só n'"um lugar ao Sol", da Fnat, na Costa da Caparica, mas apenas havia lugares à sombra; hoje estamos em crise e as agências de viagens esgotam os destinos de praia - na Páscoa. Outrora só estudavam os filhos de gente culta - hoje os filhos dão lições aos pais. A velhice passou para o 112 ou para a segurança social - pois todos trabalham, as casas são pequenas e não há ajuda doméstica. O IRS liquidou as heranças. O mercado e o aumento da riqueza prestam melhores serviços que a família habitual. Porque ela sofre da concorrência desleal movida pelo Estado. Queira o leitor responder às duas perguntas seguintes: paga mais impostos quem tem família ou quem não tem? Pede mais subsídios ao Estado quem tem família ou quem não tem? O Estado evita fazer estas contas para nos pedir mais impostos - que, diz-nos, resolverão a crise da família. O sr. Raffarin, em França, anuncia uma política a favor da família cujo pilar é ajudar os jardins infantis - os quais são um dos principais concorrentes da família. A família é a estrutura que melhor prepara o indivíduo para o bem-estar social numa sociedade livre: ajuda a arranjar emprego e dá apoio no desemprego. Porque a família trabalha sem receber salário, nem juro, nem lucro - e com devoção. Pobres sem família desaparecem ou consomem mais impostos - e mesmo assim ficam impreparados para aguentarem a dureza do mercado pois a melhor educadora infantil é menos eficaz do que a pior mãe. Por isso tudo, o mercado fornece melhores serviços mas é a família que prepara bem para o mercado. Em resumo: as taxa de IRS e de desconto para a reforma devem ser moduladas em função da pertença à família habitual - para evitar que ela se torne uma espécie em vias de extinção. Quem tem família, paga menos - se as contas derem o que o leitor supôs. Assim igualizamos a relação custo/benefício de todos os cidadãos face ao Estado. E constituiremos um mercado livre de tipos de família: cada um escolherá o melhor. |