Público - 21 Mai 03
Afinal Que Crise É Esta?
Por JOSÉ CAMPOS COSTA
Muito se tem especulado sobre a actual crise económica mundial, com todos os
analistas da matéria a apontarem causas e a proporem soluções
diariamente. Tenho sobre este tema uma visão pessoal um
pouco diferente do que geralmente se ouve ou se lê e que
gostaria de compartilhar com o leitor: na minha opinião o
que está neste momento a acontecer não é uma crise, mais ou menos
tradicional com princípio, meio e fim, mas sim o terminar de um ciclo
económico que teve o seu início na revolução industrial dos finais do
século 19. A Europa é, neste contexto, o continente mais
atingido, sobretudo pelo acumular de regalias em que se
deixou embalar, e que estão neste momento a minar todo o
seu tecido industrial.
O sistema social europeu foi criado com o objectivo de proporcionar aos seus
utentes, uma série de benefícios que fizeram elevar a qualidade de vida
da maioria dos cidadãos a um nível muito apreciável,
possibilitando-lhes enfrentar dificuldades até então
verdadeiramente dramáticas - o desemprego, por exemplo -
com alguma tranquilidade, dada a ajuda imediata do estado. Ao
longo dos tempos estas regalias foram aumentando, em parte por exigência
dos sindicatos e em parte por facilitismo dos políticos
que viam na sua satisfação uma óptima maneira de angariar
votos. Porém nenhuma das partes teve em conta o
crescimento dos custos deste sistema, nem a possibilidade de
uma entrada em cena de outros actores, que com condições de trabalho
muito diferentes e usufruindo de um fenómeno extremamente
rápido de globalização do mundo, vieram alterar todas as
regras do jogo.
Ao mesmo tempo, os mesmos cidadãos europeus, actuando agora como
consumidores no segundo maior mercado mundial, ajudaram a promover toda
uma estratégia comercial de abaixamento de preços, que
obriga as empresas a procurarem minimizar os seus custos
ao máximo. Só que fabricar barato implica ter custos
baixos, ou seja, matérias-primas, processos e mão-de-obra
baratas.
Com o aparecimento de novos pólos de produção um pouco por todo o mundo, em
que, ao contrário do que era habitual no chamado 3º mundo, a qualidade e
a flexibilidade se aliaram agora aos baixos custos de
produção, a Europa está perante um dilema que terá que
enfrentar com coragem, determinação e rapidez. A China, a
Tunísia ou os países do Leste europeu, são disso exemplos
bem claros e actuais.
Não me parece que seja possível continuar a reformar pessoas
em plena idade laboral, nem manter níveis de subsídios de
desemprego que põem em causa a própria necessidade de
trabalhar. Cito estes dois casos apenas como exemplo do
que me parece ser necessário repensar nesta nova revolução industrial do
século 21.
Ao contrário da Europa, os EUA têm reagido a esta situação com uma rapidez e
uma oportunidade, que faz com que a sua economia esteja neste momento já
a dar alguns sinais positivos, malgrado os custos
exorbitantes da recente guerra no Iraque. Esperemos que
por este lado do Atlântico haja o mesmo bom senso por
parte de todos os intervenientes.

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