Correio do Minho - 15 Mai 03
Famílias portuguesas têm cada vez menos filho
No Dia Internacional da Família, a coordenadora nacional para os Assuntos da
Família lembra, em entrevista ao "Correio do Minho", que a diminuição da
natalidade é um problema grave. É que desde 1982 Portugal não atinge o índice
necessário à substituição de gerações. Quanto a medidas de incentivo à família,
Margarida Neto admite que a política fiscal tem de ser aperfeiçoada e mais
justa.
Teresa Marques Costa
Portugal é um país que valoriza a família. O recente aumento do divórcio "não
põe em causa a família". Pelo menos é o que acredita a coordenadora nacional
para os Assuntos da Família, Margarida Neto, que no Dia Internacional da
Família, que hoje se assinala, fala da diminuição da natalidade, do Observatório
dos Assuntos da Família, do Código do Trabalho e da política fiscal.
Correio do Minho - Há uma família típica portuguesa? Qual a tendência actual?
Margarida Neto - O que é típico em Portugal é que somos um país que valoriza
a família e a sua estabilidade. Na sua grande maioria, os portugueses consideram
a família o núcleo essencial da sua vida e a base da sociedade. O recente e
preocupante aumento do divórcio não põe em causa a família. Demonstra-nos,
porém, que há dificuldades na vida conjugal e familiar que são novas e às quais
temos que estar atentos.
A diminuição da natalidade é uma preocupação? Estão a ser pensadas medidas
para combatê-la?
A diminuição da natalidade em Portugal e na União Europeia é um problema
grave. O índice sintético de fecundidade é o número de filhos por mulher. Em
Portugal, em 2001, esse número foi de 1,46. Para substituir as gerações
precisamos de um índice de 2,1, o que já não acontece desde 1982. As
implicações são óbvias, quando se sabe que, ao mesmo tempo, a esperança de vida
aumenta. Estamos a níveis de envelhecimento demográfico, não se prevendo grandes
alterações no futuro próximo. Desde 1999, o número de idosos, isto é, pessoas
com 65 e mais anos de idade excede o número de jovens, isto é, pessoas com menos
de 15 anos.
Comparação do distrito de Braga com os dado nacionais?
A região Norte tem médias mais favoráveis de natalidade. Ainda que faltem
creches, há, concerteza, alternativas. Os avós, as amas, familiares, tempo de
trabalho parcial. Temos de saber encontrar incentivos para estimular respostas
úteis, ao serviço da criança e da família.
O Observatório da Família é um projecto em marcha? Quais os seus objectivos?
O Observatório dos Assuntos da Família toma posse hoje. Ele será a sede de
análise conjunta da problemática relativa aos assuntos da família, avaliará e
analisará o desenvolvimento integrado das políticas familiares e irá fazer
recolha, tratamento e divulgação de assuntos de natureza familiar.
No novo Código do Trabalho que medidas favorecem a família? São, na sua
opinião, suficientes?
São importantes passos no sentido de melhorar a legislação relativa ao
trabalho e à vida das empresas. Um dos princípios consagrados é a
obrigatoriedade de respeitar a conciliação entre a vida profissional e a vida
laboral. Há ameaças em relação à protecção da maternidade da paternidade, em
relação à flexibilidade de horários e ao tempo em regime parcial.
Os pais vão passar a poder ir à escola quatro horas por trimestre por cada filho
para se inteirarem do desempenho escolar. É evidente que a família merece e tem
direito a muito mais, mas temos de ir devagar, com o que é possível avançar.
O "peso" fiscal não será um desincentivo a constituir família?
A política fiscal tem de ser aperfeiçoada e ser mais justa para com as
famílias. O Estado tem de dar sinais claros de que valoriza e promove a família.
A fiscalidade é um desses caminhos.
Que mensagem para as famílias nestes tempos de crise?
Os tempos de crise podem servir para amadurecer e reforçar a vida familiar e
a vida do nosso país. Como na família, precisamos de ser mais criativos, de nos
articular melhor, funcionar em rede, dar as mãos. Continuo a acreditar que
depois da tempestade vem a bonança.

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