Público - 30 Mai 03
Escolaridade Mínima de 12 Anos
O Governo acaba de aprovar legislação que eleva a escolaridade obrigatória
de nove para 12 anos, sendo de admitir que, com esta medida, procure
aumentar o nível de preparação dos trabalhadores portugueses para
enfrentarem com êxito as exigências do mundo do trabalho.
Conscientes de que neste, como em outros domínios, dificilmente se poderá
ter certezas antecipadas, não será impossível arriscar um prognóstico com
base na experiência que a vida nos ensina.
Tendo presente que os nossos programas educacionais têm como matriz
dominante o ensino "livresco", passará pela mente dos políticos que,
depois de obrigarem os jovens a viverem 12 anos com
livros debaixo do braço, algum dia os convençam a seguir
uma carreira profissional que não passe por continuarem a
lidar com papéis?
Será utopia admitir que, enquanto se teimar em não restaurar o ensino
técnico enquadrado nos programas de educação nacional, perspectivado num
acesso automático que conduza a licenciaturas, algum dia resolveremos o
problema de inadequação dos nossos trabalhadores ao mundo laboral actual?
A recorrente conclusão de que o volume de desemprego na área dos serviços
contrasta com a dificuldade de recrutamento de profissionais "braçais"
não será razão bastante para levar os políticos a
perceberem que as políticas de educação que impõem não
resolvem o problema que Portugal experimenta, embora
possa satisfazer o ego e alimentar traumas antigos de alguma classe
política?
Face ao panorama do país, às solicitações do mercado do trabalho e aos
desafios que nos espreitam, não seria mais avisado abandonar a imposição
da escolaridade obrigatória de 12 anos, substituindo-a
pelo apoio aos estudantes que revelem desejo e
aproveitamento nos estudos, majorando os cursos da
vertente técnico-profissional?
Haverá dúvidas de que uma política deste cariz serviria bem melhor os
interesses dos estudantes, das famílias, do mercado do trabalho e,
concomitantemente, contribuiria para a desejada produtividade
qualificada, desde que acompanhada por uma política
inteligente e responsável dos equipamentos produtivos e
controlo dos custos dos prestadores de serviços em regime
de monopólio?
A. Álvaro de Sousa
Valongo

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