O Estado insiste em entrar por minha casa a dentro.
E já nem bate à porta: tem chave. Qualquer dia
instala-se, põe os pés em cima da mesa, monopoliza o
comando, manda vir uma piza e dá ordens ao meu cão.
O Estado insiste em dar educação sexual aos meus
filhos e encomendou o serviço a uma associação
qualquer sem me perguntar se quero. Devem achar que
não dou conta do recado, que não sei. Cheira- -lhes.
Têm um dedinho que advinha, uma pulga atrás da
orelha, foi um passarinho que lhes soprou ao ouvido.
Qualquer coisa. Pergunto: porquê? Conhecem-me de
algum lado? Já agora, podiam fazer uma rusga pelo
país para averiguar se os meninos comem a sopa em
vez de gomas, ou se lêem os livros correctos, ou se
lavam os dentes e as mãos. Podiam mesmo criar o
Ministério do Grande Educador. Mas o defeito deve
ser meu: esta crença cega na Liberdade e na
Democracia condiciona-me o raciocínio. Sendo eu uma
perigosa democrata, acho que ninguém tem nada a ver
com a educação sexual dos meus filhos, nem com a sua
educação religiosa ou política. Muito menos o
Estado, que não percebe patavina do assunto.
Uma das coisas mais irritantes da esquerda é esta
mania alcoviteira de se meter na vida dos outros.
Que seria apenas irritante se não houvesse poder à
mistura. Mas há, o que a torna asfixiante e até
perigosa. O resultado desta aventura da educação
sexual é que a liberdade de escolha é só para os
ricos. Os outros são obrigados a educar os filhos a
meias com pessoas que não conhecem de lado nenhum. O
Estado é que sabe. É a esquerda, pá.