Defensores do sistema avançam com argumentos éticos
O abandono de crianças mantém-se, frequentemente em
consequência de pobreza ou de doença, afirma um
relatório do Conselho da Europa que dá conta do
regresso das "rodas para bebés" - os lugares onde se
pode abandonar um recém-nascido.
Se os recém-nascidos são, frequentemente,
descobertos em caixotes de lixo ou em locais
públicos, outros, menos numerosos, são abandonados
de forma anónima numa estrutura especial,
sobrevivente da "roda para bebés" ou "roda dos
enjeitados", largamente espalhada através da Europa
na Idade Média.
"Assiste-se ao regresso controverso das rodas para
bebés", explicou o deputado britânico Michael
Hanckok, autor do relatório ontem debatido em
Estrasburgo.
Na Alemanha, Suíça, Áustria, Hungria, Eslováquia,
Bélgica, Itália, "caixas para bebés" foram
instaladas nos últimos anos. Acessíveis do exterior,
pode-se aí abandonar anonimamente uma criança que
será em seguida confiada a famílias que esperam uma
adopção. Registada imediatamente, embora a mãe ainda
tenha um período durante o qual a pode reclamar, a
criança recebe um nome e um apelido.
No início do mês, uma nova Babyklappe [caixa para
bebé] foi construída na parede de um hospital
alemão. Contam-se 80 na Alemanha e algumas dezenas
em países como a Itália ou a República Checa, mas o
fenómeno é mundial já que o Japão acaba de criar uma
em Kumamoto.
Nos EUA, desde 1999, a maior parte dos estados
permite o abandono anónimo de bebés, de
recém-nascidos até um ano, em locais seguros e sem
risco de perseguições penais.
A "caixa para bebés" gera controversa: em muitos
países, o abandono, nomeadamente selvagem, é
considerado crime e este sistema é entendido como
"incitação a cometer um crime e a desresponsabilizar
as mães".
Os defensores do sistema avançam argumentos éticos:
luta contra o aborto, prevenção dos abandonos
selvagens, infanticidas e maus tratos, e a certeza
de ver as crianças adoptadas. "É um mal menor,
porque a vida da criança não é posta em perigo e ela
torna-se adoptável", resumiu o deputado francês
André Schneider.
O relatório, pobre em estatísticas sobre este tema
sensível, afirma que o fenómeno do abandono "está
longe de se esgotar na Europa central e oriental e é
também bem real na Europa ocidental".
As mães que se separam dos seus recém-nascidos são,
frequentemente, muito jovens, estrangeiras e sem
autonomia.