Gás para uso doméstico já é mais caro do que a
electricidade Lurdes Ferreira
A energia eléctrica começa a ser uma alternativa
real ao gás butano para cozinhar e tomar banho, mas
a factura ambiental para o país agrava-se
O preço do gás butano para consumo doméstico (GPL)
já está mais caro do que a tarifa eléctrica
bi-horária da EDP e caminha rapidamente para
ultrapassar a tarifa simples. A diferença já ocorre
em vários casos de consumo doméstico de
electricidade como o PÚBLICO verificou. No caso da
tarifa bi-horária, a diferença real pode atingir
12,8 por cento, como se prova pelo caso concreto
utilizado.
Na semana passada, a bilha de butano custava cerca
de 20 euros, o que dava 1,54 euros por quilo. Para
se perceber a relação de preços com a electricidade,
é preciso usar o poder calorífico como medida comum.
Como cada quilo de GPL tem a energia de 12,9
quilowatts/hora (kWh), então cada kWh de GPL ficava
a 0,120 euros. Contudo, como na queima deste
combustível perde-se 15 por cento do mesmo,
significa que, pelos preços da semana passada, a
botija de 13 quilos custava 0,137 euros/kWh.
Esta semana, consumidores da Grande Lisboa até ao
Algarve já pagaram 21,3 euros por garrafa, ao que o
PÚBLICO apurou, o que corresponde a 0,149 euros/kWh.
O GPL paga taxa normal de IVA e ISP.
No caso real de um consumidor doméstico com tarifa
eléctrica bi-horária, na cidade de Lisboa, o custo
do kWh verificado é de 0,132 euros, incluindo-se
também neste valor todos os encargos que tornem a
comparação equivalente, ou seja, a taxa de IVA de
cinco por cento, as taxas de audiovisual e de
exploração da DGGE e o encargo de potência
contratada (sem estas parcelas "adicionais", o preço
da tarifa bi-horária em horário de vazio ronda os
0,068 euros/kWh, ou seja, praticamente metade).
Para um consumidor doméstico de gás natural até 200
metros cúbicos por ano, o custo real é de 10
cêntimos por kWh, que é inferior ao da
electricidade.
Com todos os encargos associados a cada opção de
consumo, a garrafa de butano custa hoje mais 12,8
por cento do que a opção bi-horária. O problema é
que abandonar a tradicional botija significa aderir
ao gás natural, mas esta fonte de energia ainda só
cobre algumas zonas do país. E passar para a
electricidade exige mudança de equipamentos.
A diferença, que já era conhecida em relação ao gás
natural, resulta de uma tendência de aumento de
preços do GPL para a qual a Autoridade da
Concorrência alertou recentemente. No recente
relatório sobre o mercado dos combustíveis, a
entidade reguladora pede "o reforço da capacidade
das entidades competentes assegurarem uma efectiva
monitorização dos preços do GPL", que se encontram
sujeitos ao regime de preços vigiados. É, no
entanto, um mercado altamente concentrado em quatro
marcas (BP, Galp, Esso e Repsol).
Múltipla penalização
Esta mudança penaliza os consumidores domésticos
deste combustível, cujos preços estão indexados ao
preço do petróleo, e o país. O consumidor recorre
normalmente ao GPL quando não lhe é possível aceder
ao gás natural, suportando ainda o IVA mais caro do
que na electricidade (21 por cento contra cinco por
cento) e também ISP.
O país fica também a perder se a tendência for de
transferência do consumo de GPL para a
electricidade, já que a factura ambiental do GPL, em
termos de emissões de dióxido de carbono, é menor:
um kWh eléctrico emite em média cerca de 500 gramas
de CO2 (média entre carvão, gás natural, fuel e
hídrica), enquanto o kWh de GPL ronda os 250 gramas.
O gás natural fica pelos 200 gramas.
12,8%
Utilizar gás butano
em casa para o fogão e os banhos, por exemplo,
já fica mais caro 12,8 por cento do que seria a
factura
de electricidade no regime
de tarifa bi-horária