Público - 24 Jun 08

 

Gás para uso doméstico já é mais caro do que a electricidade
Lurdes Ferreira

 

A energia eléctrica começa a ser uma alternativa real ao gás butano para cozinhar e tomar banho, mas a factura ambiental para o país agrava-se

 

O preço do gás butano para consumo doméstico (GPL) já está mais caro do que a tarifa eléctrica bi-horária da EDP e caminha rapidamente para ultrapassar a tarifa simples. A diferença já ocorre em vários casos de consumo doméstico de electricidade como o PÚBLICO verificou. No caso da tarifa bi-horária, a diferença real pode atingir 12,8 por cento, como se prova pelo caso concreto utilizado.

 

Na semana passada, a bilha de butano custava cerca de 20 euros, o que dava 1,54 euros por quilo. Para se perceber a relação de preços com a electricidade, é preciso usar o poder calorífico como medida comum. Como cada quilo de GPL tem a energia de 12,9 quilowatts/hora (kWh), então cada kWh de GPL ficava a 0,120 euros. Contudo, como na queima deste combustível perde-se 15 por cento do mesmo, significa que, pelos preços da semana passada, a botija de 13 quilos custava 0,137 euros/kWh.

 

Esta semana, consumidores da Grande Lisboa até ao Algarve já pagaram 21,3 euros por garrafa, ao que o PÚBLICO apurou, o que corresponde a 0,149 euros/kWh. O GPL paga taxa normal de IVA e ISP.

 

No caso real de um consumidor doméstico com tarifa eléctrica bi-horária, na cidade de Lisboa, o custo do kWh verificado é de 0,132 euros, incluindo-se também neste valor todos os encargos que tornem a comparação equivalente, ou seja, a taxa de IVA de cinco por cento, as taxas de audiovisual e de exploração da DGGE e o encargo de potência contratada (sem estas parcelas "adicionais", o preço da tarifa bi-horária em horário de vazio ronda os 0,068 euros/kWh, ou seja, praticamente metade).

 

Para um consumidor doméstico de gás natural até 200 metros cúbicos por ano, o custo real é de 10 cêntimos por kWh, que é inferior ao da electricidade.

 

Com todos os encargos associados a cada opção de consumo, a garrafa de butano custa hoje mais 12,8 por cento do que a opção bi-horária. O problema é que abandonar a tradicional botija significa aderir ao gás natural, mas esta fonte de energia ainda só cobre algumas zonas do país. E passar para a electricidade exige mudança de equipamentos.
A diferença, que já era conhecida em relação ao gás natural, resulta de uma tendência de aumento de preços do GPL para a qual a Autoridade da Concorrência alertou recentemente. No recente relatório sobre o mercado dos combustíveis, a entidade reguladora pede "o reforço da capacidade das entidades competentes assegurarem uma efectiva monitorização dos preços do GPL", que se encontram sujeitos ao regime de preços vigiados. É, no entanto, um mercado altamente concentrado em quatro marcas (BP, Galp, Esso e Repsol).

 

Múltipla penalização
Esta mudança penaliza os consumidores domésticos deste combustível, cujos preços estão indexados ao preço do petróleo, e o país. O consumidor recorre normalmente ao GPL quando não lhe é possível aceder ao gás natural, suportando ainda o IVA mais caro do que na electricidade (21 por cento contra cinco por cento) e também ISP.

 

O país fica também a perder se a tendência for de transferência do consumo de GPL para a electricidade, já que a factura ambiental do GPL, em termos de emissões de dióxido de carbono, é menor: um kWh eléctrico emite em média cerca de 500 gramas de CO2 (média entre carvão, gás natural, fuel e hídrica), enquanto o kWh de GPL ronda os 250 gramas. O gás natural fica pelos 200 gramas.
12,8%

 

Utilizar gás butano
em casa para o fogão e os banhos, por exemplo,
já fica mais caro 12,8 por cento do que seria a factura
de electricidade no regime
de tarifa bi-horária