Portugal tem "problema sério de violência na
escola" Patrícia Jesus
'Bullying'. As escolas são todas iguais e são todas
diferentes, mas a violência é um problema global. A
conclusão é dos investigadores reunidos na
conferência mundial sobre o tema que ontem começou
em Lisboa. Em Portugal, os responsáveis dizem que a
situação melhorou, mas os alertas mantêm-se
Alunos e famílias têm de fazer parte da solução
"A violência na escola não pode ser dramatizada, mas
também não pode ser esquecida". O apelo é de Carlos
Neto, presidente da 4ª Conferência Mundial sobre a
violência escolar, que decorre até quarta-feira, em
Lisboa. O professor da Faculdade de Motricidade
Humana considera que o fenómeno é mundial, "como
mostram as centenas de trabalhos" que receberam, mas
não tem dúvidas em afirmar que "temos um problema
sério" em Portugal" no que respeita ao bullying. "A
escola é para todos e isso tem consequências",
explica.
Para o psiquiatra Daniel Sampaio, que só concebe uma
escola inclusiva, que ensine para a diferença, a
solução passa também por incluir todos na busca de
respostas: escola, professores, famílias e os
próprios alunos. "Impressiona-me que em Portugal
nunca se pergunte aos alunos o que pensam da
violência", disse.
O psiquiatra alertou ainda para a necessidade da
indisciplina ser olhada como uma forma de violência
que impede a escola de cumprir o seu papel, pouco
depois de, na sessão de abertura da conferência, a
ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, ter
dito que é importante estabelecer uma diferença
entre violência e indisciplina escolar, salientando
que os fenómenos de violência estão circunscritos,
enquanto os casos de indisciplina são mais
generalizados. Maria de Lurdes Rodrigues revelou que
"90% dos incidentes têm lugar em 5% das escolas", o
que, segundo a ministra, mostra que o fenómeno é
residual.
"Em locais marcados pela degradação, a escola é
muitas vezes um local de paz, apesar de, às vezes,
ser demasiado vulnerável", reconheceu. Para as
escolas mais sensíveis, a ministra lembrou que
existe um programa de discriminação positiva.
"Actualmente 30 escolas - 20 em Lisboa e 16 no Porto
- são alvo de medidas especiais através dos
Territórios Educativos de Intervenção prioritária",
referiu, não afastando a possibilidade de o programa
ser alargado a outros estabelecimentos.
Diminuição no último ano
A ministra garantiu ainda que já houve uma melhoria
dos resultados e uma diminuição do número de
ocorrências. Uma visão que é partilhada pelo
procurador-geral da República, que nos últimos meses
se mostrou várias vezes preocupado com a violência
nas escolas. "Se me perguntar se a situação é melhor
hoje do que há um ano, eu digo que é melhor."
Pinto Monteiro considerou que não há uma violência
generalizada nas escolas portuguesas, mas que é
preciso combater o problema desde o início. Por
isso, insistiu que as pessoas participem as
situações de violência. "Porque o que não podemos
fazer é esconder, fingir que não existe". Segundo o
PGR, o seu apelo teve efeito: houve um grande
aumento de queixas e a Procuradoria recebe cartas de
alunos, de pais e de professores - "a maior parte
vêm assinadas" - o que mostra que as pessoas sentem
que as queixas são valorizadas.
Também Pinto Monteiro reconhece que este é "um
problema universal, para o qual não existem receitas
mágicas". "Não pode é ser um cadáver escondido no
armário", alerta.
A conferência, promovida pela Faculdade de
Motricidade Humana e pelo Instituto de Apoio à
Criança, reúne em Lisboa investigadores de 55
países. Até quarta-feira, os especialistas vão
partilhar experiências e apresentar mais de duzentas
comunicações sobre o tema "A Violência nas Escolas e
políticas Públicas".