O Portugal de hoje não é o Portugal que os governos
de Cavaco Silva rasgaram de auto-estradas nos anos
80. Esse era um país onde a demora e o mau estado
das estradas prejudicavam o desenvolvimento. Nessa
altura, as auto-estradas podiam ser consideradas
infra-estruturas básicas. Hoje, as auto--estradas
que continuamos a fazer e a projectar já podem ser
consideradas um luxo. Basta dizer que para ir de
Lisboa ao Porto podemos escolher entre dois
percursos.
Segundo dados divulgados esta semana pelo Eurostat,
as famílias portuguesas são das que mais dependem
dos combustíveis, são as segundas que mais gastam
com gasóleo e gasolina para uso pessoal - apenas
precedidas pelas famílias italianas. E são também
aquelas em que estes gastos mais cresceram, ao
contrário do resto da Europa, onde a diminuição foi
acentuada.
É, de facto, necessário inverter esta tendência. E
não é fazendo auto-estradas que o conseguiremos.
Talvez fosse possível mudar o paradigma, investir,
por exemplo, numa grande e eficiente rede de
caminhos-de-ferro.
Quando Manuela Ferreira Leite falou em desinvestir
em obras públicas, podia ter usado qualquer um
destes argumentos. Seriam mais "de futuro" do que a
ambivalente questão da ajuda aos pobres ou novos
pobres. Esta dá ao outro lado, de bandeja, os
argumentos do emprego do investimento acelerador da
economia. E, para ajudar, melhor do que pescar...
Não é normal alunos, professores e especialistas
estarem de acordo. Muito menos quando o assunto se
chama Matemática. Mas, à semelhança do que já tinha
acontecido antes em outras áreas, no final do exame
nacional de Matemática do 12.º ano, a que ontem se
submeteram cerca de 50 mil estudantes, as opiniões
eram unânimes: "fácil", "acessível", "sem problemas
de maior", foi como o caracterizaram.
Como se sabe, o nível de iliteracia a Matemática no
nosso país é considerado um problema grave do nosso
ensino (o outro é o Português). Em 2006, no estudo
para o Programa Internacional para a Avaliação de
Alunos (PISA), que a OCDE publica de três em três
anos, a média de conhecimentos a Matemática dos
alunos portugueses era de 466 (a média global é de
500), e Portugal ocupava o 37.º lugar do ranking, só
deixando atrás de si a Itália, a Grécia, a Turquia e
o México. Pior: o valor era o mesmo de três anos
antes, o que provava não ter existido evolução.
É verdade que a média nacional, apesar de continuar
negativa, tem melhorado entretanto. Passou de 6,9 em
2005, para 7,3 em 2006 e para 9,6 no ano passado.
Uma subida gradual, que seguramente se irá reflectir
para o ano no próximo estudo da OCDE. Mas perante a
coincidência da melhoria das notas e da facilidade
que alunos, professores e especialistas encontram
nos exames, fica uma dúvida inaceitável: queremos
melhores estudantes ou um melhor ranking?