O carro eléctrico João Miranda
investigador em biotecnologia
José Sócrates encontrou a solução política para a
crise petrolífera. Promete-nos o carro eléctrico.
Sócrates já nos tinha dado a energia eólica
(subsidiada), a energia solar (subsidiada), a
energia das ondas (subsidiada) e os biocombustíveis
(subsidiados). Como é evidente, o carro eléctrico de
Sócrates será subsidiado. Os portugueses vão pagar a
crise petrolífera através de petróleo mais caro e
impostos mais elevados. Sócrates sonha com o carro
eléctrico, como sonhou com as eólicas. O sonho será
pago pelo contribuinte.
O carro eléctrico utilitário é, por enquanto, uma
utopia. Não é um problema político. É essencialmente
um problema técnico e económico. Os carros a bateria
e as células combustíveis são tecnologias
experimentais reservadas a modelos de luxo. Têm
custos de desenvolvimento e de produção elevados.
Mais importante, o carro eléctrico não acaba com a
dependência dos combustíveis fósseis. A energia
acumulada em baterias tem de ser obtida através dos
processos tradicionais de produção de electricidade,
como as centrais de ciclo combinado. O hidrogénio
usado nas células combustíveis é produzido a partir
de gás natural. Em última análise, os carros
eléctricos requerem maior produção de energia a
partir de fontes primárias e, actualmente, os
combustíveis fósseis encontram-se entre as fontes
primárias de energia mais competitivas.
O episódio do carro eléctrico ilustra bem a forma
como os políticos vêem a economia e a inovação. José
Sócrates não sabe, ninguém sabe, qual é a tecnologia
mais adequada para substituir o petróleo. Pode ser o
carro eléctrico, o etanol celulósico ou o
biopetróleo. Este é um problema típico de
empreendedorismo. Mas Sócrates apresenta-se como
oráculo do futuro. Pretende substituir-se aos
empreendedores ditando à partida qual será o
resultado da competição entre tecnologias. José
Sócrates já decidiu. É o carro eléctrico. Os
empreendedores não percam tempo a experimentar.
Sócrates acredita que a sua visão pode substituir o
mercado e os empreendedores na descoberta de
inovações. Não pode.