Prova de Matemática do 9.º foi a mais fácil dos
últimos anos Isabel Leiria
Quase 80 por cento do teste dizia respeito a
matérias de níveis de escolaridade mais baixos,
incluindo do 1.º ciclo do ensino básico
O exame nacional de Matemática do 9.º ano, ontem
realizado por mais de 90 mil alunos, foi mais fácil
do que nos anos anteriores. A tal ponto que,
concordam as duas associações de professores da
disciplina, várias perguntas poderiam ter sido
respondidas por alunos do 2.º ciclo e até do 1.º.
A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) fez as
contas ao valor das perguntas que testavam matérias
específicas do 9.º ano e concluiu que correspondia a
apenas 22 pontos em 100, ou seja, "78 por cento do
exame diz respeito a um nível de escolaridade
inferior". Se é verdade que o exame incide sobre
todo o 3.º ciclo do ensino básico, a SPM entende que
esta percentagem é "demasiado exagerada".
Acresce que, lê-se ainda no comentário à prova,
mesmo as questões relativas ao 9.º ano tinham um
grau de dificuldade muito elementar. De tal forma
que podiam ser resolvidas "sem recurso a técnicas
desenvolvidas neste ano". A SPM considera que aos
alunos do ano terminal da escolaridade obrigatória
"deveria exigir-se outro tipo de dificuldade".
"De uma forma geral, a prova é mais fácil do que as
dos anos anteriores, existindo diversos itens que
podem ser resolvidos por alunos de outros ciclos de
escolaridade", escreve também a Associação de
Professores de Matemática (APM), no seu comentário.
Por isso, considera-se, é muito provável que os
resultados venham a ser melhores face aos dos anos
anteriores (os exames nacionais estrearam-se em
2005), "não significando que existiu uma melhoria
nas aprendizagens dos alunos".
A APM estranha a desvalorização das construções
geométricas, já que, ao contrário das provas
anteriores, nenhum exercício exigiu a utilização de
material de desenho e medição.
Já a SPM realça que "não foram avaliados importantes
tópicos que devem ser dominados no 9.º ano", como
sistemas de equações, polígonos e áreas de
polígonos, inequações e outros.
Num comentário muito crítico, os responsáveis do
gabinete do ensino básico e secundário da SPM
afirmam ainda que, "se é verdade que seja positivo
que os jovens vejam as questões matemáticas como
alcançáveis e desartificiosas, os custos futuros
podem ser muito graves". E lamentam que a "nivelação
por baixo" não recompense o esforço dos alunos que
mais se empenharam durante o ano, "transmitindo a
ideia de que não é necessário estudar as partes mais
avançadas de cada grau de escolaridade".
Por outro lado, acrescentam, os professores que mais
trabalharam "só podem sentir-se desiludidos e pouco
apoiados com esta prova".
Do lado positivo, a APM diz que a prova está, na
generalidade, de acordo com as orientações
curriculares, que a linguagem utilizada é "acessível
e adequada" e que as imagens utilizadas são "claras
e exemplificativas". A SPM destaca o facto de
algumas questões serem "interessantes e bastante bem
concebidas".
Contactada pelo PÚBLICO na sequência de uma dúvida
suscitada por uma professora, a SPM confirmou já ao
fim da tarde que a prova tem uma incorrecção que
"não interfere com os cálculos dos alunos", mas que
é de "lamentar" numa prova nacional. Numa das
questões usa-se como unidade de temperatura o grau
centígrado, quando há 50 anos esta denominação
deixou de ser usada, passando a falar-se de graus
Celsius. "É um erro de semântica física", diz Filipe
Oliveira, da direcção da SPM. Com A.S.