Público - 21 Jun 08

 

Prova de Matemática do 9.º foi a mais fácil dos últimos anos
Isabel Leiria

 

Quase 80 por cento do teste dizia respeito a matérias de níveis de escolaridade mais baixos, incluindo do 1.º ciclo do ensino básico

 

O exame nacional de Matemática do 9.º ano, ontem realizado por mais de 90 mil alunos, foi mais fácil do que nos anos anteriores. A tal ponto que, concordam as duas associações de professores da disciplina, várias perguntas poderiam ter sido respondidas por alunos do 2.º ciclo e até do 1.º.

 

A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) fez as contas ao valor das perguntas que testavam matérias específicas do 9.º ano e concluiu que correspondia a apenas 22 pontos em 100, ou seja, "78 por cento do exame diz respeito a um nível de escolaridade inferior". Se é verdade que o exame incide sobre todo o 3.º ciclo do ensino básico, a SPM entende que esta percentagem é "demasiado exagerada".

 

Acresce que, lê-se ainda no comentário à prova, mesmo as questões relativas ao 9.º ano tinham um grau de dificuldade muito elementar. De tal forma que podiam ser resolvidas "sem recurso a técnicas desenvolvidas neste ano". A SPM considera que aos alunos do ano terminal da escolaridade obrigatória "deveria exigir-se outro tipo de dificuldade".

 

"De uma forma geral, a prova é mais fácil do que as dos anos anteriores, existindo diversos itens que podem ser resolvidos por alunos de outros ciclos de escolaridade", escreve também a Associação de Professores de Matemática (APM), no seu comentário. Por isso, considera-se, é muito provável que os resultados venham a ser melhores face aos dos anos anteriores (os exames nacionais estrearam-se em 2005), "não significando que existiu uma melhoria nas aprendizagens dos alunos".

 

A APM estranha a desvalorização das construções geométricas, já que, ao contrário das provas anteriores, nenhum exercício exigiu a utilização de material de desenho e medição.

 

Já a SPM realça que "não foram avaliados importantes tópicos que devem ser dominados no 9.º ano", como sistemas de equações, polígonos e áreas de polígonos, inequações e outros.

 

Num comentário muito crítico, os responsáveis do gabinete do ensino básico e secundário da SPM afirmam ainda que, "se é verdade que seja positivo que os jovens vejam as questões matemáticas como alcançáveis e desartificiosas, os custos futuros podem ser muito graves". E lamentam que a "nivelação por baixo" não recompense o esforço dos alunos que mais se empenharam durante o ano, "transmitindo a ideia de que não é necessário estudar as partes mais avançadas de cada grau de escolaridade".

 

Por outro lado, acrescentam, os professores que mais trabalharam "só podem sentir-se desiludidos e pouco apoiados com esta prova".

 

Do lado positivo, a APM diz que a prova está, na generalidade, de acordo com as orientações curriculares, que a linguagem utilizada é "acessível e adequada" e que as imagens utilizadas são "claras e exemplificativas". A SPM destaca o facto de algumas questões serem "interessantes e bastante bem concebidas".

 

Contactada pelo PÚBLICO na sequência de uma dúvida suscitada por uma professora, a SPM confirmou já ao fim da tarde que a prova tem uma incorrecção que "não interfere com os cálculos dos alunos", mas que é de "lamentar" numa prova nacional. Numa das questões usa-se como unidade de temperatura o grau centígrado, quando há 50 anos esta denominação deixou de ser usada, passando a falar-se de graus Celsius. "É um erro de semântica física", diz Filipe Oliveira, da direcção da SPM. Com A.S.