Portugal está a viver acima das suas
possibilidades
Rudolfo Rebêlo
Previsões da OCDE. Economia portuguesa deverá
crescer 1,6% em 2008, com as famílias a reduzirem o
consumo de bens. Desemprego, endividamento e taxas
de juro impedem a recuperação e comércio externo
deverá ser afectado por mau desempenho dos parceiros
comerciais
Poupança das famílias cai pelo quarto ano
Portugal vai empobrecer ainda mais, prevê a OCDE. Já
este ano, em resultado da crise, as poupanças das
famílias baixam, pelo quarto ano consecutivo,
enquanto a escalada da inflação para 3% "come"
grande parte dos rendimentos. O desemprego afectará
quase 8% dos portugueses, o que ajuda a explicar uma
travagem nas despesas com as compras.
O país continuará nos próximos anos a viver acima
das suas possibilidades, sendo a segunda nação entre
as 33 filiadas na OCDE, a seguir à Grécia, com o
maior défice externo. Ou seja, Portugal consome mais
do que produz.
Contas feitas, a economia portuguesa cresce 1,6%
este ano, uma forte revisão em baixa face aos 2%
esperados pela organização em Dezembro do ano
passado. Este ano, a economia cresce abaixo da Zona
Euro, mas em contrapartida deverá registar melhor
desempenho do que a área euro em 2009. E sem grandes
públicas irá continuar a divergir da Europa.
A estimativa da OCDE está em linha com as recentes
previsões do Governo (1,5%), com a actividade a ser
afectada pela travagem no consumo das famílias, do
investimento e das exportações, diz o relatório,
ontem divulgado em Paris.
Este ano, o consumo cresce apenas 1,4%, com as
famílias endividadas -a dívida aos bancos ultrapassa
em quase 30% o rendimento anual dos portugueses,
segunda dados do Banco de Portugal - a sofrer
efeitos da alta das taxas de juro.
Acresce que os banqueiros - com dificuldades em
captar dinheiro fora do país - estão a restringir a
concessão de empréstimos às famílias. Aliás, diz a
OCDE, a crise de liquidez e o aperto nas condições
de concessão de créditos podem "moderar" os gastos
com o investimento.
O contributo do comércio externo para o crescimento
da economia será negativo, já que as importações
deverão crescer acima das exportações. A razão é
simples: o comércio português deverá sofrer com a
forte travagem da economia espanhola.
O relatório da OCDE indica que a economia do país
vizinho deverá crescer apenas 1,6%, em comparação
com uma expansão de 3,8% em 2007. O drama é que o
ritmo de crescimento das importações do país vizinho
deverá cair 45,4%, uma vez que o consumo das
famílias espanholas está em forte desaceleração e o
investimento estagnou. E 28% das exportações
portuguesas dependem de Espanha.
Apesar do fraco desempenho da
economia, o défice orçamental deverá manter uma
trajectória de redução. Mas, diz a OCDE, o corte de
um ponto no IVA vai abrandar o ritmo de consolidação
orçamental nos próximos dois anos.