Público  - 29 Jun 07

 

Deputados levam lei do aborto ao Tribunal Constitucional
Leonete Botelho

Um grupo de cerca de três dezenas de deputados do PS, PSD e CDS-PP vai pedir a apreciação sucessiva da constitucionalidade da lei da despenalização da interrupção voluntária da gravidez e da portaria que a regulamenta, apurou o PÚBLICO.

 

Entre os subscritores do pedido contam-se Teresa Venda e Matilde Sousa Franco (PS), José Paulo Carvalho e Hélder Amaral (CDS-PP) e Zita Seabra, Rosário Águas, Miguel Frasquilho, Helena Lopes da Costa, Henrique de Freitas, Hugo Velosa, Rui Gomes da Silva e Luís Montenegro (PSD).
 

Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida - estrutura que tem trabalhado pelo "não" ao aborto, mesmo depois do referendo -, frisa quatro aspectos essenciais para fundamentar o pedido.
"São postas em causa as bases que levaram à aprovação da lei, sobretudo a existência de um quórum vinculativo no referendo de 11 de Fevereiro e a falta de acolhimento das recomendações de Cavaco Silva em relação à lei." Entre estas, destaca as dúvidas sobre a forma legal escolhida pelo Governo para regulamentar a lei, uma vez que a publicação em portaria impossibilita o controlo posterior pela Assembleia da República e pelo próprio Presidente da República.
 

Outro aspecto prende-se com o regime de objecção de consciência fixado na lei. De acordo com o pedido de fiscalização, este estatuto "parece lesar a dignidade dos médicos, ao consagrar um tratamento discriminatório" destes profissionais. "A portaria sujeita o médico objector de consciência a encontrar, ele próprio, uma solução para a prossecução daquele aborto, o que é uma violência sobre os médicos", considera Isilda Pegado.
 

"Ninguém imagina que um objector de consciência à guerra tenha de encontrar alguém que faça a guerra por si", considera.
 

Por último, a responsável frisa a falta de respeito pelo acórdão do Tribunal Constitucional de 2006, em que foi aprovada a pergunta ao referendo.
 

"O acórdão determina que devem ser compatibilizados os direitos da mulher com os direitos do seu filho, mas o que a lei fez foi fazer vingar apenas o da mulher."