Brincar na rua está em vias de
extinção em muitas cidades do mundo e as crianças
têm agora um tempo de brincadeira organizado e
planeado que lhes diminui a autonomia, segundo um
trabalho de um professor universitário.
Carlos Neto, docente da Faculdade
de Motricidade Humana de Lisboa que hoje apresentará
as conclusões do seu estudo no 3º congresso sobre
Espaços de Jogo e Recreio, considera que, hoje, o
tempo espontâneo, da aventura, do risco e do
confronto com o espaço físico natural, deu lugar ao
tempo organizado, planeado, uniformizado.
De acordo com Carlos Neto, esta
mudança teve como consequência a diminuição do nível
de autonomia das crianças, com implicações graves na
esfera do desenvolvimento motor e emocional.
«Sem a imunidade que lhe é
conferida pelo jogo espontâneo, pelo encontro com
outras crianças num espaço livre, onde se brinca com
a terra, se inventam jogos, se vivem aventuras, a
criança revela menos capacidade de defesa e
adaptabilidade a novas circunstâncias», refere
Carlos Neto no documento.
A cultura de rua, adianta, é
fundamental no processo de desenvolvimento da
criança, nomeadamente em experiências de jogo
informal decisivas nas aquisições motoras e sociais.
Segundo Carlos Neto, algumas
investigações demonstram também o efeito dos prédios
no padrão de jogo de crianças de pouca idade e os
resultados são considerados alarmantes. As crianças
que vivem em prédios altos descem sozinhas para
jogar/brincar na rua numa idade mais tardia do que
aquelas que vivem em casas baixas. Por outro lado,
as crianças que vivem em prédios também não saem
para a rua com tanta frequência e têm dificuldade de
contacto com os amigos.
O professor universitário
considera que o futuro do planeamento urbano deve
considerar as culturas específicas de infâncias e de
jovens quanto ao acesso aos espaços de jogo perto
das áreas residenciais.