Portugal Diário - 22 Jun 06

Crianças precisam de brincar na rua

Brincar na rua está em vias de extinção em muitas cidades do mundo e as crianças têm agora um tempo de brincadeira organizado e planeado que lhes diminui a autonomia, segundo um trabalho de um professor universitário.

Carlos Neto, docente da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa que hoje apresentará as conclusões do seu estudo no 3º congresso sobre Espaços de Jogo e Recreio, considera que, hoje, o tempo espontâneo, da aventura, do risco e do confronto com o espaço físico natural, deu lugar ao tempo organizado, planeado, uniformizado.

De acordo com Carlos Neto, esta mudança teve como consequência a diminuição do nível de autonomia das crianças, com implicações graves na esfera do desenvolvimento motor e emocional.

«Sem a imunidade que lhe é conferida pelo jogo espontâneo, pelo encontro com outras crianças num espaço livre, onde se brinca com a terra, se inventam jogos, se vivem aventuras, a criança revela menos capacidade de defesa e adaptabilidade a novas circunstâncias», refere Carlos Neto no documento.

A cultura de rua, adianta, é fundamental no processo de desenvolvimento da criança, nomeadamente em experiências de jogo informal decisivas nas aquisições motoras e sociais.

Segundo Carlos Neto, algumas investigações demonstram também o efeito dos prédios no padrão de jogo de crianças de pouca idade e os resultados são considerados alarmantes. As crianças que vivem em prédios altos descem sozinhas para jogar/brincar na rua numa idade mais tardia do que aquelas que vivem em casas baixas. Por outro lado, as crianças que vivem em prédios também não saem para a rua com tanta frequência e têm dificuldade de contacto com os amigos.

O professor universitário considera que o futuro do planeamento urbano deve considerar as culturas específicas de infâncias e de jovens quanto ao acesso aos espaços de jogo perto das áreas residenciais.