Jovens suburbanos sem regras, sempre à procura de
"uma cena"
Quem tem uma arma é quem manda, mas se houver um
elemento do grupo que é apanhado, depressa outro
toma o seu lugar. Não se fazem planos, antes se
navega ao sabor da oportunidade, e quase nunca se
pondera a utilização de uma pistola, de uma faca ou
de uma caçadeira: dispara-se à toa, ferindo ou
matando pelos motivos mais fúteis, dos quais o medo
é o primeiro. "Os jovens que actualmente praticam
crimes violentos têm como principal elo de ligação o
bairro onde vivem [bairros sociais ou degradados nas
imediações das grandes cidades]. Preocupam-se em
usar roupas de marca e não planeiam os roubos.
Normalmente juntam-se em grupos, que nunca são
estanques e, depois de um dizer "vamos fazer uma
cena", fazem-na, seja um roubo à mão armada a uma
pessoa que passa na rua, seja numa loja ou num
autocarro", diz Vítor Alexandre. Para o director
nacional adjunto da PJ, este tipo de actuação torna
os suspeitos já referenciados como "muito mais
perigosos do que os grupos violentos de há alguns
anos, porque não têm o domínio suficiente do
manuseamento de armas nem sequer das situações que
provocam". Nos levantamentos efectuados pela PJ
relativos a estes grupos destaca-se ainda o facto
de, ao contrário do que muitos possam pensar, não
haver maioritariamente motivações derivadas do
consumo de drogas. "A maior parte dos crimes que
cometem resulta apenas da vontade de fazerem algo, e
não da necessidade ditada, por exemplo, de uma
adicção a drogas. O que se nota é um desenraizamento
muito grande, bem como uma falta de valores. Não
surpreende, por isso, que, quando são detidos,
muitos deles abram completamente o jogo, mas
revelando sempre uma despreocupação [pelos actos
praticados] que é, no mínimo, preocupante." J.B.A.