Público - 21 Jun 06

Jovens suburbanos sem regras, sempre à procura de "uma cena"

 

Quem tem uma arma é quem manda, mas se houver um elemento do grupo que é apanhado, depressa outro toma o seu lugar. Não se fazem planos, antes se navega ao sabor da oportunidade, e quase nunca se pondera a utilização de uma pistola, de uma faca ou de uma caçadeira: dispara-se à toa, ferindo ou matando pelos motivos mais fúteis, dos quais o medo é o primeiro. "Os jovens que actualmente praticam crimes violentos têm como principal elo de ligação o bairro onde vivem [bairros sociais ou degradados nas imediações das grandes cidades]. Preocupam-se em usar roupas de marca e não planeiam os roubos. Normalmente juntam-se em grupos, que nunca são estanques e, depois de um dizer "vamos fazer uma cena", fazem-na, seja um roubo à mão armada a uma pessoa que passa na rua, seja numa loja ou num autocarro", diz Vítor Alexandre. Para o director nacional adjunto da PJ, este tipo de actuação torna os suspeitos já referenciados como "muito mais perigosos do que os grupos violentos de há alguns anos, porque não têm o domínio suficiente do manuseamento de armas nem sequer das situações que provocam". Nos levantamentos efectuados pela PJ relativos a estes grupos destaca-se ainda o facto de, ao contrário do que muitos possam pensar, não haver maioritariamente motivações derivadas do consumo de drogas. "A maior parte dos crimes que cometem resulta apenas da vontade de fazerem algo, e não da necessidade ditada, por exemplo, de uma adicção a drogas. O que se nota é um desenraizamento muito grande, bem como uma falta de valores. Não surpreende, por isso, que, quando são detidos, muitos deles abram completamente o jogo, mas revelando sempre uma despreocupação [pelos actos praticados] que é, no mínimo, preocupante." J.B.A.