Diário de Notícias - 24 Jun 05
 
Perceber o contexto
Miguel Coutinho
 

Eis o desafio de Sócrates ser rigoroso, percebendo o contexto. A coragem com que enfrenta os lóbis do País é a mesma que é necessária para contrariar o fundamentalismo de Bruxelas ou os pregadores neo-liberais para quem os países não têm gente dentro

A iluminada burocracia de Bruxelas e alguns neoliberais fora de época, com passagens efémeras por escolas britânicas, acham que Portugal pode aplicar, sem grandes angústias, vagas sucessivas de choque para acabar de vez com o problema do défice público.

Os métodos justificam os meios para quem não tem contacto, nem deseja ter, com o país real - aquele que existe, de facto, atrás dos números e das estatísticas.

Cortar no subsídio de desemprego ou fechar hospitais são caminhos indiferentes para quem julga que a vida se funda e se constrói com base em modelos teóricos.

É natural que a Comissão Europeia e o comissário Joaquín Almunia exijam mais cortes na despesa e mais sacrifícios a Portugal. É o papel deles.

E é compreensível que o primeiro- -ministro José Sócrates tenha a tentação de dar corpo à tradição do país bom aluno. É a vontade de escapar ao fantasma da indecisão guterrista.

A realidade do País exige rigor mas também moderação na terapia. Portugal, apesar dos tiques de novo-riquismo, é pobre, a estrutura da sua economia é frágil e a incapacidade para criar riqueza é gritante.

Um país falido e exaurido é incapaz de se repensar e regenerar.

O exemplo de Durão Barroso e Manuela Ferreira Leite não deve ser esquecido os sacrifícios exigidos aos portugueses são, por norma, inversamente proporcionais aos resultados atingidos na redução do défice.

Por muita razão que lhe assista, um Governo não deve, a cada decisão, abrir novas frentes de contestação social nem querer resolver com soluções avulsas problemas estruturais.

As medidas duras - que já aqui foram elogiadas - precisam de ser compensadas por outras que dinamizem a economia e reponham o optimismo dos cidadãos. O ministro da Economia, sobretudo ele, tem de sair da clandestinidade e ser portador de um discurso e de uma mensagem.

Eis, pois, o desafio de José Sócrates ser rigoroso, percebendo o contexto. A coragem com que enfrenta os lóbis do País é a mesma que é necessária para contrariar o fundamentalismo de Bruxelas ou os pregadores neoliberais para quem os países não têm gente dentro. outros direitos, também consagrados constitucionalmente, como o da educação e cultura.

ção deste direito com outros direitos, também consagrados constitucionalmente, como o da educação e cultura.

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