Diário de Notícias - 21 Jun 05
Livre escolha da escola
José
Alberto Xerez
nosso sistema educativo de ensino básico e secundário centra-se nas escolas
públicas e na sua sujeição a um rígido e centralizado sistema de gestão imposto
pelo Estado. Daqui decorre que as escolas públicas são instituições fechadas e
sem autonomia, vivendo desinseridas do mercado.
As nossas escolas estão, pois, mal preparadas para corresponder às exigências do
mercado global, onde a informação e o conhecimento estão acessíveis a todos,
pelo que o que irá marcar decisivamente a diferença entre as pessoas será a sua
capacidade de análise e o espírito de iniciativa.
Há que mudar radicalmente esta situação, promovendo uma escola mais aberta, com
uma nova mentalidade, orientada para a inovação e para o mundo exterior.
A forma, porventura, mais eficaz de ligar a escola ao mercado será a de facultar
aos pais o exercício do direito à livre escolha, optando pela escola, pública ou
independente, mais adequada para os seus filhos.
A introdução do cheque-educação (voucher) - ou em alternativa do sistema
do crédito de imposto - poderá ser a fórmula ideal para o conseguir.
O cheque-educação não é um objectivo em si mesmo, mas antes um instrumento que
permite passar progressivamente de um sistema educativo sob controlo
governamental para um sistema de mercado.
O cheque-educação apenas poderá conduzir a uma rápida expansão do mercado de
ensino se for capaz de criar a prazo um nível de procura susceptível de induzir
os empresários a entrar no mercado.
Para que tal suceda é preciso que o cheque-educação seja universal, acessível a
todos aqueles que estão actualmente matriculados no ensino público, e que o
respectivo valor, embora inferior aos gastos suportados pelo Estado por aluno
matriculado numa escola pública, seja suficiente para cobrir os custos de
inscrição numa escola independente, rentável economicamente e com uma qualidade
de oferta de educação elevada.
Neste sistema, o ensino nas escolas públicas continuará a ser gratuito, enquanto
as escolas independentes cobrarão um preço pelos serviços prestados. O valor do
cheque-educação poderá, todavia, não ser o suficiente para pagar este preço, o
que poderá exigir um esforço adicional aos pais.
Dentro desta lógica, o Estado deverá, ainda, promover um regime contratual
especial para as escolas públicas que optarem pelo regime de pagamento através
do cheque-educação. As assim chamadas "escolas contratuais" são escolas
independentes, geridas por professores, por pais dos alunos ou por entidades
privadas, dotadas de uma ampla autonomia administrativa e financeira, o que as
isenta de muitas das regulamentações estabelecidas para o sector. Em
contrapartida, essas escolas obrigam-se contratualmente a cumprir determinados
standards superiormente definidos pelas autoridades competentes.
A introdução do sistema do cheque-educação, no nosso país, deverá ser efectuada
de forma gradual. Numa primeira fase, poderia ser aplicado em zonas localizadas
nas grandes áreas metropolitanas, onde existem mais escolas e uma maior
mobilidade em termos de transporte, o que facilitaria naturalmente as opções de
escolha.
O sistema poderia, ainda, restringir-se, numa fase inicial, aos alunos de baixos
rendimentos, com um reduzido grau de aproveitamento nas escolas públicas. O
sistema do cheque- -educação dar-lhes-ia a possibilidade de poderem optar, ao
escolherem uma escola independente que lhes faculte a elevação dos respectivos
conhecimentos e da sua performance.
A Suécia, uma das antigas mecas do socialismo, introduziu em 1992 uma reforma do
sistema educativo orientada para os vouchers de educação e para a livre
escolha da escola. Essa reforma continua a produzir os seus efeitos, tendo
induzido um progressivo aumento da quota-parte do ensino independente, em
detrimento da parcela respeitante ao ensino público. A qualidade do ensino tem
vindo a melhorar, já que as escolas públicas, expostas à concorrência das
escolas independentes, estão sujeitas a uma pressão efectiva para melhorarem os
seus métodos de gestão e de funcionamento.
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