Público - 4 Jun 04
Bispos Criticam Sistema Fiscal "Desfavorável à Promoção da
Família"
Por ANTÓNIO MARUJO
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) critica, em carta pastoral
sobre a família, o sistema fiscal existente e a falta de "qualidade
de vida" urbana, que torna difícil as famílias "crescerem numa
atmosfera de equilíbrio, harmonia, tranquilidade e serenidade", e
que acaba por ter "custos incalculáveis no que diz respeito à
estabilidade familiar".
"A expansão económica" das últimas décadas "foi acompanhada por uma
forte especulação imobiliária que encareceu significativamente o
preço da habitação", ao mesmo tempo que se reduziu o espaço
oferecido em muitas casas, "o que dificulta a família ampla e a
presença das pessoas mais idosas na convivência do lar".
O documento condena a "injustiça fiscal" vigente, que "ignora a
centralidade da família na sociedade" e é "desfavorável à promoção
da família", além de desencorajar a natalidade e penalizar "as
famílias numerosas, constituindo um incentivo a que os casais
limitem, por razões económicas, o número de filhos".
As críticas dos bispos estendem-se ainda ao facto de o sistema
fiscal "tributar mais gravosamente o cidadão enquanto membro de uma
família do que o seria fora dela". Falta uma política que
"privilegie o tratamento fiscal dos rendimentos integrados num
agregado familiar" e que incentive as empresas que desenvolvam uma
política de apoio às famílias dos seus trabalhadores, nomeadamente
através de creches, infantários e prestação de cuidados de saúde".
Neste texto, intitulado "A Família, esperança da Igreja e do mundo",
os bispos apontam também o desemprego e o trabalho precário como
"das mais sérias ameaças à família", com frequência responsáveis
"pelo endividamento das famílias, provocando situações
verdadeiramente dramáticas de miséria e de dependência". E criticam
ainda a "pouca atenção dada à maternidade".
Texto longo, divulgado anteontem ao fim do dia, através da agência
Ecclesia (onde se pode ler na íntegra -
www.ecclesia.pt),
nele os bispos mantêm a afirmação da doutrina tradicional da Igreja
Católica sobre a família, no que ao campo moral diz respeito: "A
realidade do ser-em-relação manifesta-se na bipolaridade sexuada do
homem e da mulher"; a família é "célula fundante e fundamental da
humanidade" e o matrimónio traduz essa realidade (sendo o divórcio
recusado); e mesmo num tempo de "crise de civilização", como parece
ser o actual, a família continua "o principal foco da estabilidade e
da esperança".
A instituição está em crise, mesmo se muitas famílias não o estão,
admitem os bispos. Os cônjuges recasados devem ser acolhidos pelas
estruturas da Igreja, mesmo se os bispos mantêm, também aqui, a
posição oficial de recusar a comunhão na missa a quem está nessa
situação. Outras situações especiais que merecem a atenção do
documento são as famílias monoparentais, as que têm portadores de
deficiência e as migrantes. Os bispos enumeram ainda um conjunto de
direitos das famílias perante o Estado, entre os quais o
reagrupamento familiar e a o apoio especial às famílias mais pobres
ou às mais numerosas.
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