Público - 17 Jun 03
Privados Aceitam Alunos com Notas Entre 0 e 1 Valores
Por ISABEL LEIRIA
As instituições de ensino superior já determinaram as classificações mínimas
exigidas para acesso aos seus cursos e, uma vez mais, a tendência
repete-se: universidades e politécnicos públicos mais
exigentes; escolas privadas a pedirem muito menos dos
seus potenciais alunos. A tal ponto que um em cada três
estabelecimentos do subsistema particular e cooperativo fixa como nota
mínima nas provas de ingresso não mais do que 1 valor (numa escala de 0 a
20).
Ou seja, no limite, um aluno poderá entrar no ensino superior tendo tido 0
valores nos exames nacionais, que servem simultaneamente de provas
específicas ou de ingresso. Apenas um exemplo: o curso de Contabilidade e
Administração do Instituto Superior de Matemáticas e Gestão (ISMAG) do
Fundão está disposto a aceitar estudantes que tenham tido essa
classificação no exame nacional de Matemática.
Mas a lei também diz que as instituições têm de fixar uma nota de
candidatura (que engloba provas de ingresso, nota do secundário e, se
houver, pré-requisitos). No caso do ISMAG do Fundão, é de 6,5 valores.
Outros exemplos se poderiam dar já que, em 116 escolas privadas, 40
determinaram notas mesmo muito mínimas de ingresso (38 fixaram entre 0 e
1 valores; duas estabeleceram 1,5). Ainda assim, foram
mais aquelas que fixaram como limite mínimo 9,5. Com uma
ressalva: na maioria dos casos, as instituições adoptaram
a chamada "recomendação da Associação Portuguesa do
Ensino Superior Privado (APESP)". Quer isto dizer que, embora exijam, "a
priori", 9,5 de mínima nas provas de ingresso, a fasquia pode descer caso
as notas nos exames do 12º ano venham a ser muito baixas.
E sabe-se que é que isso que acaba por acontecer em
disciplinas como Matemática ou Física.
Esta recomendação diz que, se o número de examinandos com classificação
igual ou superior a 9,5 for inferior a 80 por cento do total de
candidatos, a nota mínima desliza até ao valor que
permita a admissão a concurso de 80 por cento dos
estudantes. Vai ser, portanto, necessário esperar pelos
resultados de cada uma das chamadas dos exames nacionais para se apurar, de
facto, quais as notas mínimas exigidas por cada instituição que adoptou
esta recomendação.
Algumas escolas superiores de saúde e enfermagem estão entre as poucas
excepções que fixam a fasquia, sem concessões, em 9,5.
Maioria das universidades públicas exige positivas
Já no sector público o panorama é consideravelmente diferente. A esmagadora
maioria das universidades fixou para os seus cursos notas mínimas nas
provas de ingresso iguais ou superiores a 9,5 valores. É
isso que acontece com a generalidade das licenciaturas
das universidades de Aveiro, Coimbra, Lisboa (Clássica,
Técnica ou Nova), Minho e Porto.
A Faculdade de Medicina de Lisboa é, nesta fase, a mais exigente: os
candidatos só podem entrar com 16, quer nas provas de ingresso quer na
nota de candidatura. Acontece que a procura é tanta que,
no final do concurso, só entra mesmo quem tiver mais de
18.
Nas restantes universidades públicas, a situação mais frequente é o recurso
ao já referido mecanismo que prevê uma correcção da fasquia de exigência,
no caso, a utilização do "percentil 45". Traduzindo: se,
com a imposição dos 9,5 valores, 55 por cento ou mais dos
alunos que realizaram determinado exame nacional ficarem
automaticamente excluídos, então a nota mínima desce até
que 55 por cento estejam em condições de se candidatar.
É também a este mecanismo que recorre a grande maioria dos escolas
politécnicas públicas. As denominações podem ser outras, mas o objectivo
é o mesmo.
Neste cenário, importa lembrar que, dentro de dois anos, as instituições de
ensino superior, universidades e politécnicos, públicas e privadas, vão
mesmo ter de alinhar pela mesma bitola. A partir de 2005, as regras do
jogo mudam e todas terão de exigir no mínimo 9,5 valores
em cada uma das provas de ingresso.
Se a medida preconizada pelo ministro Pedro Lynce tivesse sido aplicada
neste ano lectivo, só as universidades e politécnicos públicos teriam
recebido menos cinco mil alunos, de acordo com um estudo sobre o impacto
da aplicação da nota mínima, coordenado por Alberto
Amaral, do Centro de Investigação das Políticas do Ensino
Superior. Com uma quebra média na ordem dos 27 por cento
(contra 3,6 por cento nas universidades), os institutos
politécnicos serão sem dúvida os mais afectados. Nalguns casos (Lisboa e
Porto), a diminuição poderia ter ultrapassado os 40 por cento.
Quanto aos estabelecimentos privados, as consequências também deverão pesar
no funcionamento de muitas instituições.

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